Da Redação
A história da Papisa Joana é uma das lendas mais fascinantes e controversas da Idade Média. Segundo essa tradição, uma mulher teria enganado a hierarquia eclesiástica, disfarçando-se de homem, e teria sido eleita Papa, exercendo o cargo supremo da Igreja Católica até ser descoberta de forma trágica. Mas o que há de verdade nessa narrativa? E por que nunca houve, de fato, um Sumo Pontífice mulher?
A origem da lenda
A lenda da Papisa Joana começou a circular na Europa entre os séculos XIII e XIV, embora sua suposta existência fosse datada muito antes, entre os anos de 855 e 857, no intervalo entre os papados de Leão IV e Bento III. Segundo a versão mais popular, Joana era uma jovem brilhante, de origem germânica ou inglesa, que se apaixonou por um monge e, para acompanhá-lo, vestiu-se como homem. Tornando-se conhecida por sua erudição, ascendeu na hierarquia da Igreja até ser eleita Papa sob o nome de João Anglicus.
A descoberta de seu gênero teria ocorrido quando, durante uma procissão pelas ruas de Roma, Joana entrou em trabalho de parto. Em algumas versões, ela morre em seguida, linchada pela multidão; em outras, é retirada discretamente da história e enclausurada para o resto da vida.
As possíveis motivações da história
Pesquisadores e historiadores acreditam que a lenda surgiu como uma crítica simbólica à corrupção e à decadência moral da Igreja da época. Também pode ter sido propagada por adversários políticos da Santa Sé, como uma forma de deslegitimar o poder papal. Outra hipótese sugere que a lenda tenha sido inspirada em erros de cronologia ou confusão com personagens históricos reais.
A primeira referência literária sólida à Papisa Joana aparece na "Crônica Universal" do dominicano Jean de Mailly, por volta de 1250, e depois foi popularizada por Martinho Polônio, em sua crônica papal, sendo amplamente aceita como fato durante a Idade Média.
A Igreja e a negação do mito
A Igreja Católica sempre negou a existência da Papisa Joana, e historiadores modernos apoiam essa visão. Não há registros confiáveis de sua eleição ou reinado, e a cronologia dos papas é bem estabelecida nesse período. Muitos estudiosos consideram que a lenda se trata de um mito construído com base em rumores e simbolismos, sem respaldo documental.
No século XVI, o protestante Lutero e outros reformadores chegaram a usar a história da Papisa Joana como argumento contra a autoridade papal. Já no século XIX, estudiosos católicos refutaram amplamente a lenda, demonstrando sua inconsistência histórica.
Por que nunca houve um Sumo Pontífice mulher?
A ausência de uma mulher como Sumo Pontífice se deve à tradição teológica e canônica da Igreja Católica, que reserva o sacerdócio aos homens. Segundo a doutrina, Jesus Cristo escolheu apenas homens como apóstolos, e esse precedente teria sido mantido na sucessão apostólica. Assim, o acesso das mulheres ao papado é impedido desde sua raiz: a ordenação sacerdotal.
A questão continua sendo debatida em círculos teológicos e sociais contemporâneos, mas até hoje a Igreja sustenta sua posição com base na continuidade da tradição apostólica.
A história da Papisa Joana permanece como um intrigante capítulo da mitologia medieval, refletindo as ansiedades, críticas e imaginações de uma época marcada por conflitos religiosos e sociais. Embora historicamente improvável, a lenda continua a inspirar livros, filmes e estudos, lembrando-nos de como o poder, o gênero e a fé se entrelaçam nas narrativas humanas.
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