Da Redação
A Proclamação da República, ocorrida em 15 de
novembro de 1889, é um marco significativo na história do Brasil, representando
o fim do regime monárquico e a transição para um governo republicano. A
Maçonaria, enquanto instituição influente e atuante em várias frentes políticas
e sociais, desempenhou um papel importante nesse processo, tanto nos bastidores
quanto na ação direta de seus membros em prol da mudança de regime. O papel da
Maçonaria na Proclamação da República Brasileira envolve uma rede de relacionamentos,
ideias e ações que contribuíram para a formação de uma nova identidade política
e social no país.
Contexto
Histórico e a Questão Republicana
A segunda metade do século XIX foi marcada
por uma série de tensões políticas e sociais no Brasil, envolvendo debates
sobre a abolição da escravatura, conflitos entre a Igreja e o Estado, e
insatisfações militares. Nesse período, a Maçonaria era uma instituição
robusta, com uma vasta rede de membros entre intelectuais, militares,
profissionais liberais e políticos, muitos dos quais defendiam ideais de
liberdade, igualdade e progresso. Essas ideias republicanas, promovidas por
alguns maçons, encontravam-se alinhadas com os ideais maçônicos de fraternidade
e liberdade, incentivando uma visão de transformação e modernização política.
Os maçons republicanos, inspirados por ideais
de liberdade e igualdade, defendiam a abolição da escravatura, realizada em
1888, e um novo sistema de governo que se distanciasse das práticas
aristocráticas e autoritárias associadas à monarquia. O projeto republicano de
diversos maçons visava a criação de uma república laica, centralizada e
democrática, em que o poder fosse exercido de forma mais ampla e democrática.
A Influência Maçônica nas Ideias Republicanas
A Maçonaria, enquanto organização, nunca
apoiou formalmente a deposição do imperador Dom Pedro II. Contudo, muitos de
seus membros foram protagonistas na defesa do sistema republicano. Eles
desempenhavam um papel ativo na sociedade como disseminadores de ideais republicanos,
defendendo um sistema de governo mais moderno e menos vinculado aos privilégios
de uma nobreza.
Entre os maçons que se destacaram no
movimento republicano, estavam figuras como Benjamin Constant e Marechal
Deodoro da Fonseca, ambos militares de alta patente. Benjamin Constant, em
especial, foi um dos maiores influenciadores do pensamento republicano, sendo
professor de matemática e física na Escola Militar. Ele cultivava uma forte
admiração pelo positivismo de Auguste Comte e via na república o caminho ideal
para o progresso e a ordem social. Outro nome notável foi Quintino Bocaiúva, um
dos fundadores do Clube Republicano e jornalista que, por meio de artigos e
publicações, contribuiu significativamente para a divulgação dos ideais
republicanos.
A Proclamação da República e a Ação dos Maçons
Na manhã do dia 15 de novembro de 1889, o
Brasil foi tomado por um movimento militar que culminou na deposição do
gabinete do Visconde de Ouro Preto e na declaração de um novo regime. Nesse
cenário, o Marechal Deodoro da Fonseca, um dos líderes do movimento republicano
e também membro da Maçonaria, desempenhou um papel crucial ao liderar a marcha
das tropas e ao assumir o governo provisório.
Deodoro, apesar de não ser um republicano
convicto, foi persuadido a agir pela insatisfação generalizada entre os
militares e pelos incentivos de seus colegas, muitos dos quais maçons
republicanos. Ao lado de Deodoro, outros membros da Maçonaria estiveram
diretamente envolvidos, como o próprio Benjamin Constant, que incentivou a
adesão de militares ao movimento, e Rui Barbosa, intelectual maçom e defensor
de reformas institucionais e econômicas que visavam a construção de uma república
sólida e progressista.
A transição para o regime republicano ocorreu
sem maiores resistências, com Dom Pedro II aceitando o exílio sem reagir, e a
Maçonaria, por meio de seus membros influentes, passou a ocupar espaços
importantes na estrutura do novo governo. A organização e os valores defendidos
pelos maçons ajudaram a moldar o novo governo, que assumiu a bandeira de ordem
e progresso, alinhada com os ideais positivistas e republicanos.
O Legado da Maçonaria na República Brasileira
Com a proclamação da República, a Maçonaria
consolidou-se como uma força influente na política brasileira, com muitos
maçons ocupando cargos de relevância no governo. Os ideais republicanos
maçônicos contribuíram para a formação das bases do novo sistema político
brasileiro, marcado por um caráter laico e progressista. Além disso, os
princípios maçônicos de liberdade, igualdade e fraternidade serviram como
inspiração para as reformas e a construção de uma identidade nacional mais
ampla e democrática.
A bandeira brasileira, adotada em 19 de novembro de 1889, carrega a frase “Ordem e Progresso”, lema diretamente inspirado pelo positivismo comteano, defendido por figuras como Benjamin Constant. Esse lema simboliza a busca pela harmonia social e o desenvolvimento nacional, valores também presentes na tradição maçônica.
Considerações Finais
A relação entre a Maçonaria e a Proclamação
da República Brasileira é um testemunho da força de ideias e valores que
transcendem a mera estrutura de uma organização. Embora a Maçonaria como
instituição não tenha apoiado oficialmente o movimento republicano, muitos de
seus membros desempenharam papéis cruciais na formulação e na condução desse
projeto. A república brasileira nasceu sob o impulso de ideias e ações de
indivíduos comprometidos com a construção de um país moderno e justo.
A Maçonaria deixou sua marca na história
republicana do Brasil, ajudando a consolidar princípios que ainda hoje orientam
o Estado brasileiro. Esse legado demonstra o poder da fraternidade e da
cooperação em transformar uma nação, valores que continuam a ecoar na história
política e social do Brasil.
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