Simón Bolívar e o Desentendimento com a Maçonaria: O Caso de 1828


Da Redação

Simón Bolívar, uma das figuras mais proeminentes da independência da América Latina, foi um personagem envolto em glória e desafios políticos. Após conduzir as lutas que resultaram na emancipação de várias nações latino-americanas, Bolívar buscou manter a Confederação sob sua liderança, unindo os novos Estados em uma federação. Contudo, essa tentativa foi confrontada por ambições divergentes dentro de seu próprio círculo de comandados, resultando em conflitos que culminaram em conspirações e desavenças políticas significativas.

O ponto mais crítico dessa série de conflitos aconteceu em 25 de setembro de 1828, em Bogotá, quando Bolívar foi alvo de um atentado perpetrado por uma sociedade secreta liderada pelo frei Arganil. Esse incidente quase custou a vida do Libertador, que sobreviveu milagrosamente. A partir desse momento, a relação de Bolívar com as sociedades secretas, em especial a Maçonaria, começou a deteriorar-se.

Em 8 de novembro de 1828, apenas dois meses após o atentado, Bolívar respondeu de maneira enérgica, emitindo um decreto que ordenava o fechamento de todas as sociedades secretas, incluindo a Maçonaria. Esse decreto marcou o início de um distanciamento definitivo entre Bolívar e a fraternidade maçônica, apesar de quase todo o seu ministério, com exceção de um membro, ser composto por maçons. Mesmo diante das tentativas de seus ministros de argumentar contra a decisão, Bolívar manteve sua postura, ignorando as contestações e prosseguindo com sua determinação de encerrar as atividades das associações secretas.

Esse desentendimento com a Maçonaria foi o desfecho de uma relação já incerta. Embora existam referências à vida maçônica de Bolívar, não há provas tangíveis de sua atuação dentro da Maçonaria em países como o Peru ou outras regiões além da Venezuela. Em um relato ao escritor maçom e oficial francês Luiz Peru de la Croix, Bolívar reconheceu que ingressou na Maçonaria em Paris por curiosidade e chegou ao grau de Mestre, mas posteriormente afastou-se da fraternidade.

Contexto Histórico e Político

A década de 1820 foi um período tumultuado na América Latina, com as recém-criadas repúblicas enfrentando grandes desafios de coesão política e social. Bolívar, que sonhava com a integração dos novos Estados independentes sob uma grande Confederação, viu-se diante de um cenário de crescente fragmentação. Os líderes regionais e militares, muitos dos quais eram seus antigos aliados, começaram a contestar sua autoridade centralizadora. Esse ambiente de desconfiança e rivalidade alimentou a formação de conspirações e "complots" contra Bolívar, sendo o atentado de 1828 o mais grave deles.

Nesse contexto, a Maçonaria, que havia desempenhado um papel relevante no processo de independência em várias partes do mundo, inclusive na América Latina, passou a ser vista com crescente suspeita. As sociedades secretas, muitas vezes associadas a movimentos de revolução e emancipação, tornaram-se alvos de repressão por parte de Bolívar, que via nelas uma ameaça ao seu projeto de unificação.

O Legado do Desentendimento

O decreto de Bolívar contra as associações secretas em 1828 marcou uma ruptura definitiva entre o Libertador e a Maçonaria, encerrando uma relação que, ao que tudo indica, já era distante e marcada por indiferença. Embora tenha ingressado na Maçonaria durante sua juventude em Paris, Bolívar parece ter se afastado gradualmente da instituição, seja por desinteresse, seja por questões políticas. O atentado de Bogotá e a subsequente reação violenta de Bolívar contra as sociedades secretas apenas selaram o fim de qualquer ligação que ele pudesse ter com a fraternidade.

Esse episódio reflete o momento delicado pelo qual passava a América Latina no período pós-independência, onde os ideais de liberdade e autonomia frequentemente colidiam com as ambições políticas e as rivalidades internas. Bolívar, que havia sido o grande líder da independência, encontrou-se, nos últimos anos de sua vida, cercado por adversidades políticas, conflitos internos e conspirações que acabaram por deteriorar sua saúde e seu espírito.

O desentendimento entre Bolívar e a Maçonaria, portanto, não é apenas um episódio pessoal, mas sim um reflexo das tensões mais amplas que permeavam a construção das novas nações latino-americanas. Bolívar, um homem que sonhou com a unidade e a grandeza da América Latina, terminou seus dias em um cenário de desilusão e isolamento, deixando um legado complexo, marcado por suas conquistas e seus desafios.

Considerações Finais

A relação de Simón Bolívar com a Maçonaria é um tema de debate e especulação histórica, com poucos registros que confirmem sua atuação significativa na fraternidade. No entanto, o episódio de 1828 demonstra como as tensões políticas da época moldaram as ações de líderes como Bolívar, levando-os a tomar medidas drásticas contra instituições que, em outros momentos, foram vistas como aliadas na luta pela independência. O decreto de 1828 não só encerrou sua relação com a Maçonaria, mas também destacou os desafios de um dos momentos mais turbulentos de sua trajetória política.





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