Da Redação
O encontro histórico entre o Papa Francisco e
o Grande Imã de Jacarta no túnel "Silaturahmi", que conecta a grande
mesquita Istiqlal e a Catedral de Notre-Dame-de-l'Assomption na Indonésia,
representa mais do que uma união física entre dois locais de culto. Simboliza o
esforço contínuo de criar pontes entre diferentes tradições religiosas, um
gesto de paz e compreensão mútua em tempos de crescente tensão global. Esse
gesto profundo e simples reflete um compromisso com a fraternidade que ressoa
profundamente com a essência dos princípios maçônicos, mesmo que o diálogo
entre a Igreja Católica e a Maçonaria permaneça fechado.
O ideal maçônico da fraternidade
A fraternidade é uma pedra angular na
Maçonaria, que visa unir homens de todas as religiões e culturas sob um
princípio comum de busca pela verdade, moralidade e bem-estar social. Esse
ideal universal, partilhado por diferentes correntes religiosas e filosóficas,
busca promover a paz e a compreensão entre os homens, independentemente de suas
crenças. Nesse sentido, o gesto do Papa Francisco e do Grande Imã, caminhando
lado a lado pelo túnel da amizade, reflete um princípio maçônico fundamental: a
união dos seres humanos em um espírito de respeito mútuo e harmonia, mesmo
diante de diferenças teológicas e culturais.
O diálogo inter-religioso e a Maçonaria
Embora o Papa Francisco tenha demonstrado uma
notável abertura para o diálogo com outras religiões, como o Islã, o Judaísmo e
o Cristianismo Ortodoxo, a relação com a Maçonaria permanece complexa. Desde a
bula papal **In Eminenti Apostolatus Specula**, emitida por Clemente XII em
1738, a Igreja Católica declarou que a Maçonaria é incompatível com a fé
católica. O ponto de discórdia central é a visão teológica da Maçonaria, que
defende um conceito deísta ou simbólico de Deus, representado pelo Grande
Arquiteto do Universo (GADU). Para a Igreja, esta concepção relativista da
verdade religiosa contradiz a crença em um Deus revelado por Jesus Cristo.
A Maçonaria, por sua vez, não se posiciona
como uma religião, mas como um espaço de diálogo e reflexão filosófica, onde as
diferentes tradições religiosas podem coexistir pacificamente. Na prática
maçônica, os membros são incentivados a buscar um terreno comum onde a
diversidade de crenças contribui para o crescimento espiritual de cada um. Esse
espaço de liberdade de pensamento poderia servir de base para o diálogo entre
maçons e a Igreja, se não fosse pelos obstáculos históricos e doutrinários que
dificultam essa aproximação.
Obstáculos
históricos e culturais
A desconfiança mútua entre a Igreja Católica
e a Maçonaria não é apenas teológica, mas também histórica. A Maçonaria,
especialmente na Europa, esteve envolvida em movimentos políticos e sociais que
desafiavam o poder e a influência da Igreja, o que gerou um antagonismo
duradouro. No caso do Papa Francisco, suas experiências na Argentina, onde a
Maçonaria desempenhou um papel relevante nos círculos políticos, podem ter
influenciado sua visão. Na América Latina, a Maçonaria muitas vezes se alinhou
a movimentos anticlericais, reforçando a percepção de que suas intenções
estavam em desacordo com os valores da Igreja.
A
fraternidade além das divisões
A fraternidade, um conceito profundamente
enraizado tanto no Cristianismo quanto na Maçonaria, oferece um ponto de
partida para o entendimento. A cerimônia simbólica no túnel Silaturahmi sugere
que é possível encontrar terreno comum em gestos de boa vontade e diálogo
pacífico. O fato de a Maçonaria promover a ideia de que todos os homens são
irmãos, independente de suas crenças, é um convite à reflexão sobre como as
instituições religiosas e filosóficas podem colaborar para o bem comum.
O Papa Francisco, ao promover a fraternidade
entre muçulmanos, judeus e cristãos ortodoxos, reconhece a importância de
respeitar as diferenças enquanto se busca a paz. Embora o diálogo com a
Maçonaria permaneça fechado, a mensagem subjacente ao esforço inter-religioso
do pontífice ecoa valores maçônicos de solidariedade e entendimento entre os
povos.
Conclusão
O encontro entre o Papa Francisco e o Grande Imã no túnel da amizade é um símbolo poderoso de que, mesmo em um mundo marcado por divisões, o diálogo e a fraternidade são possíveis. Esse gesto ressoa com os princípios da Maçonaria, que também prega a união entre os homens, independentemente de suas crenças. A relação entre a Igreja Católica e a Maçonaria permanece tensa, mas a fraternidade, um valor compartilhado, pode um dia servir como ponte para o diálogo entre essas duas tradições que, em essência, buscam a elevação espiritual e a paz mundial.
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