Da Redação
A Maçonaria é uma fraternidade que opera de maneira única, unindo seus membros em um ritual compartilhado e formando lojas, as quais constituem a base de um sistema maior, a ordem maçônica. Esta estrutura, aparentemente simples, permite que maçons ao redor do mundo sigam princípios comuns, como reflexão ética, trabalho ritualístico e busca pelo aprimoramento humano. No entanto, a harmonia desse sistema é constantemente ameaçada pela presença de um "espírito maligno" que provoca divisões e enfraquece a coesão da fraternidade.
A
Estrutura da Maçonaria e o Papel das Lojas
Desde o início do século XVIII, a
Maçonaria tem operado com base em um modelo de lojas que formam uma rede global
de fraternidades compartilhando símbolos, rituais e valores comuns. Este modelo
permitiu à Maçonaria manter uma identidade universal, presente em diferentes
culturas e épocas. As lojas, em sua essência, são comunidades de irmãos que se
reúnem para trabalhar em sua própria formação e reflexão ética, mantendo um
compromisso com os valores maçônicos.
Contudo, logo surgiram as primeiras
associações de lojas em "Grandes Lojas" ou obediências, entidades
administrativas que agrupam várias lojas sob um mesmo conjunto de regras e
regulamentos adicionais. A criação dessas obediências trouxe consigo um desafio
fundamental para a Maçonaria: a introdução do espírito maligno da divisão,
resultante do desejo de poder e controle.
O
Espírito Maligno da Divisão: Origem e Manifestação
Na tradição bíblica, o "espírito
maligno" é frequentemente interpretado como uma obra de Deus para trazer
consciência sobre os pecados humanos, enquanto em crenças animistas, ele
representa tudo o que perturba a ordem sagrada e social estabelecida pelos
ancestrais. Esse conceito é especialmente relevante para a Maçonaria, onde o espírito
maligno da divisão reflete a incapacidade das lojas e obediências de
reconhecerem e respeitarem umas às outras, resultando em conflitos internos,
rompimentos e uma perda de foco no propósito original da fraternidade.
O surgimento de novas Grandes Lojas ou
obediências ao longo dos séculos ocorreu muitas vezes por motivos triviais ou
devido a disputas de poder. Isso gerou um ambiente de competição, exclusão e
fragmentação, enfraquecendo a unidade da ordem maçônica. A proliferação dessas
divisões desviou a Maçonaria de seu impulso inicial, focado na busca de
iluminação pessoal e coesão fraterna.
A
Perda da Vitalidade e a Falência da Autoridade das Lojas
Embora a prática do ritual maçônico e o
trabalho nas lojas ainda atraiam os membros, a vitalidade da ordem como um todo
parece ter diminuído. As obediências funcionam muitas vezes como entidades
burocráticas, distantes da realidade vivida nas lojas, e os líderes parecem
incapazes de reviver uma dinâmica coletiva vibrante. As reuniões se tornaram
formais e vazias, onde debates genuínos sobre o futuro da fraternidade são
raros.
As lojas, que deveriam ser as células
vivas da Maçonaria, passaram a ser vistas como executoras das obrigações
impostas pelas obediências, perdendo sua autonomia e poder de decisão. Este
processo reduziu sua capacidade de fomentar uma reflexão interna significativa
e de se posicionar como verdadeiras forças motrizes da fraternidade.
Restaurando
a Autoridade das Lojas: Um Caminho para a Unidade
Para combater esse espírito maligno da
divisão, é essencial restaurar a autoridade das lojas maçônicas. As lojas,
embora formem as Grandes Lojas, precisam resgatar sua soberania e liberdade
para serem efetivamente fontes de vitalidade e transformação. Isso requer um
retorno às suas raízes: um espaço de reflexão autônoma, onde as decisões e a
ética da comunidade prevaleçam sobre regulamentos impostos de cima.
O fortalecimento das lojas envolve um
trabalho de autocrítica, onde se questiona constantemente o propósito e o
funcionamento da comunidade. Periodicamente, as lojas devem se reunir para
discutir questões fundamentais como "por que existimos?" e "como
podemos melhorar?", promovendo um diálogo que envolva todos os membros na
construção de um consenso.
Além disso, é fundamental que as lojas
reconheçam e respeitem a autonomia de outras lojas, mesmo que sigam caminhos
diferentes. Este reconhecimento mútuo é a base do verdadeiro espírito maçônico
e do respeito pela diversidade interna da fraternidade.
Um
Exemplo para a Maçonaria Global
Se um número significativo de lojas ao
redor do mundo se engajar nesse processo de revalorização da autoridade
interna, o espírito maligno da divisão poderá perder sua influência. A
Maçonaria, assim, poderá redescobrir sua vocação original de promover a coesão
e o respeito mútuo, não apenas dentro de suas fileiras, mas também nas relações
intercomunitárias do mundo externo.
Em um tempo marcado por divisões e
conflitos, o exemplo das lojas maçônicas pode servir como um modelo poderoso de
convivência pacífica, mostrando que a verdadeira força da fraternidade está na
diversidade e no respeito pelas diferenças, sempre em busca do bem maior da
humanidade.
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