Um Profano Dentro do Templo

Por Hilquias Scardua

Muitas vezes, só percebemos a importância de um momento depois que passamos por ele. É pesaroso pensar que não aproveitamos o suficiente e perdemos a possibilidade de estar por inteiro diante dele, permanecendo presente, enquanto nossa presença estava dividida entre um e outro momento. Nesses casos, estávamos em outro lugar, apesar de nosso corpo físico se colocar diante dos fatos.

Na frase adaptada de "Otelo", William Shakespeare registra "O passado e o futuro parecem-nos sempre melhores; o presente, sempre pior.". De algum modo, estamos presos em pensamentos e sensações do passado e vislumbrando algo para o futuro, e nesse intervalo, o Presente opera e passa efemeramente.

Na tarde desse Dia, em conversa com um Amigo e Irmão, ilustrávamos vários ensaios e percepções sobre esse tipo de situação, quanto tratávamos das atividades em família e com os amigos durante as festividades que tivemos recentemente. Surgiu diante disso uma imagem simbólica de nossa condição Maçônica, quando me dirigi a ele, de forma retórica, perguntando: "Qual seria o nosso Átrio diante desses momentos?".

É entendido que o Átrio antecede o Templo, e nele, refletimos, ponderamos e fazemos nossas preces. Pois antes de entrarmos ao Templo, o passado e o futuro não nos pertencem mais, não estão para subjugar nossos pensamentos e sentimentos; decerto, que o presente é o nosso momento dentro do Templo, é pelos corredores do tempo que nos preparamos para ali estar.

E de igual forma, devemos identificar o Átrio dos Dias. É nos sutis detalhes que ele se encontra, antecedendo a conversa, o encontro, o abraço; é o fio do instante que antecede qualquer ação. É a conexão que nos leva ao outro, fundindo posteriormente no Templo do Presente.

Aquele que não passou pelo Átrio e não adentrou as portas do Templo, consideramos Profano. E, sabidos disso, consideramos que aquele que não se colocou por totalidade dentro das colunas do Templo, aquele que avançou o Átrio sem entender o seu propósito, apenas entrou fisicamente ao Templo, pois sua essência e seus pensamentos ficaram presos à dimensão do espaço fora das Colunas.

É com essa alegoria significativa e totalmente simbólica que devemos ilustrar a razão de considerarmos o sentido do Átrio, tanto do Templo Maçônico quanto do Templo de nossa existência. Que sejamos o presente para os presentes momentos.

Há um profano dentro do Templo, ele esqueceu de onde está, de onde veio; ele não se muniu das ferramentas, entrou despido sem seu avental. Qual o seu nome? De onde veio? E por que ele esqueceu a Triplica Presente?

Esse pode ser qualquer um de nós quando nos permitimos ser engolidos pela trama dos pensamentos direcionados, passados e de ensaios do futuro. Quando não enxergamos o Espaço atribuído ao Átrio e a sua mensagem entalhada nos umbrais da Porta.

Serviremos do falso momento quando a hora chegar? Do abraço, do diálogo, do compromisso e afirmações?

Que nossas preces sejam ouvidas e o nosso presente seja a Obra atribuída tão quanto a arquitetada pelo Supremo Reparador dos Mundos.

Jacaraípe, 7 de Janeiro de 2024.

Hilquias Scardua

Cavaleiro da Liberdade