“Onde estão os ensinamentos oficiais da
Maçonaria?”
Essa singela pergunta está entre
aspas porque não sou eu que faço a pergunta. Também não adoto o
sistema de consultório maçônico, preenchendo o meu tempo e o dos leitores a
responder perguntas. No entanto, certas perguntas são procedentes, pertinentes
− e merecem ser compartilhadas mediante uma breve análise.
Temas como esse vêm sendo apresentados por
vários Irmãos, perplexos diante da vasta “literatura” maçônica contida nos
livros e disseminada pela internet:
“Onde estão os ensinamentos oficiais da
Maçonaria?”
Em primeiro lugar, devemos considerar que não
existem propriamente “ensinamentos maçônicos”; e menos ainda “ensinamentos
oficiais”. A palavra “ensinamento” faz supor o efeito de ensinar, um conjunto
de ideias a serem transmitidas de uma pessoa para outra como doutrinas ou
lições. A Maçonaria não doutrina nem prega um conjunto de ideias, mas HABILITA
seus membros a desenvolverem, por si mesmos, uma compreensão mais alta e
refinada da vida. Por isso dizemos que a Maçonaria é uma Ordem iniciática e não
dogmática. Noutras palavras – a Maçonaria é uma associação de indivíduos,
sujeitos às mesmas regras, associação essa que fornece FERRAMENTAS para que
seus associados alcancem os cânones das Artes Liberais tradicionalmente
desempenhadas pelos homens livres (mormente a Lógica). Mas a utilização dessas
FERRAMENTAS é ato voluntário; o maçom pode lançar-se ao trabalho, ou continuar
frequentando sessões maçônicas pelo simples hábito ou diletantismo (sem
falarmos, é claro, noutros interesses inconfessáveis!). O ato
voluntário consiste na aplicação da inteligência sobre a matéria,
visando a harmonia, a felicidade humana e as ciências sociais. Essas
FERRAMENTAS estão contidas no Simbolismo do Templo, na execução PERFEITA dos
Rituais e no estudo diligente das Instruções dos Graus de Aprendiz, Companheiro
e Mestre. O maçom que não tem conhecimento completo, amplo e perfeito domínio
desse tripé – Simbolismo, Ritualística e Instruções – é um maçom inacabado,
inapto para ocupar cargos em Loja ou na Potência a que pertence. Percebem a
extensão do problema?
As Instruções maçônicas não são, ao contrário
do que muitos pensam, uma filosofia no sentido de se investigarem a dimensão
essencial e ontológica do mundo real, ou mesmo inquirirem a respeito das
“verdades primeiras” e incondicionadas, tais como as relativas à natureza de
Deus, da alma e do universo. Mas paralelamente ao Simbolismo do Templo,
Rituais e Instruções dos Graus, os maçons são livres para desenvolverem
reflexões mais aprofundadas − ou menos aprofundadas, ou até tendenciosas dos
conteúdos iniciáticos. Assim há os que escrevem livros, os que proferem
palestras ou apresentam artigos em revistas, periódicos, blogs e sites da
internet. Mas – repito – nada disso constitui “ensinamentos da Maçonaria”,
filosofia maçônica ou postura oficial da Ordem como organização estruturada
sobre Potências, Lojas e Corpos Maçônicos regulares. Mas é forçoso dizer: tudo
o que escapa do conteúdo e escopo do Simbolismo, Rituais e Instruções é pura
opinião pessoal advinda da experiência de UM maçom singular – é um conhecimento
obtido por meio das faculdade específicas de UM estudioso; serve para ele
apenas, embora possa servir de referência − e apenas referência − para outros
que se exercitam no autoconhecimento.
Daí a estranheza que muitos Irmãos percebem
com relação a “novas teorias”, interpretações e intenções “reformistas” em
circulação nos meios maçônicos reais e virtuais. Vale lembrar que a nossa
prática maçônica, organizada em instituições regulares, acompanha a disposição
da Constituição Federal em seu Artigo 5º, IV que garante a liberdade e
manifestação do pensamento; no nosso caso, vamos além: nossa Ordem não
impõe nenhuma restrição à busca da verdade. Entretanto não há espaço, numa
organização séria de livres pensadores, para invencionices e excentricidades.
Tais atitudes revelam apenas o desejo imprudente, a ousadia e a temeridade
próprias apenas de adolescentes imberbes que tudo fazem para chamarem
sobre si a atenção dos adultos; essas condutas são mais preocupantes quando
afrontam a mesma Constituição Federal que, no mesmo Artigo 5º, IV impede
ou proíbe o anonimato.
Filosofemos, pois este é direito e dever do
ser humano; eu também cometo a ousadia de “filosofar”; mas acautelemo-nos da
cátedra categoremática; e enfrentemos de mente a mente o sofisma e
as intenções sub-reptícias de quem tenta se utilizar da Maçonaria para fins
pessoais.
“Quem tem ouvidos, ouça. Quem tem
carapuça, use-a” – já dizia o Marquês Burgrave de Nuremberg (Fürth,
Baviera: 1371-1440).
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