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Quando Hitler subiu ao poder, as dez Grandes
Lojas da Alemanha foram dissolvidas. Muitos maçons, entre os mais dignos e
proeminentes membros das Grandes Lojas, foram enviados para campos de
concentração. A Gestapo aproveitou a lista de membros das Grandes Lojas e
saquearam suas bibliotecas e coleções de objetos maçônicos. Grande parte desse
tesouro foi, então, exposto em uma "Exposição Antimaçônica",
inaugurada em 1937, pelo Dr. Herr Joseph Goebbels, em Munique.
A exposição foi, completamente, mobiliada com
os móveis dos templos maçônicos. A perseguição foi ampliada para a Áustria,
quando o país foi capturado pelos nazistas. Mestres de várias lojas maçônicas
de Viena foram, imediatamente, confinados nos mais notórios campos de
concentração, inclusive o horrível inferno em Dachau, na Baviera. O mesmo
procedimento foi repetido quando Hitler assumiu a Tchecoslováquia, em seguida,
na Polônia. Imediatamente, após conquistar a Holanda e Bélgica, os nazistas
ordenaram a dissolução das lojas maçônicas nesses países. Quando a França foi
tomada, o Grande Oriente da França e a Grande Loja Francesa foram dissolvidos,
sendo seus bens apreendidos e vendidos em leilão. Procedimento idêntico foi
tomado pelo general Franco, na Espanha, em 1940, quando condenou todos os maçons
em seu reino, automaticamente, a dez anos de prisão.
O ódio de Hitler pela Maçonaria ficou,
claramente, documentado, em 1931, quando autoridades do partido nazista
receberam um "Guia e Carta de Instrução", que declarava: "A
hostilidade natural dos camponeses contra os judeus, e sua hostilidade contra o
maçom como um servo dos judeus, devem ser trabalhados até um frenesi."
No Manual Oficial do Ensino da Juventude
Hitlerista - “The Nazi Primer” – determinava que deveriam ser atacados, os
maçons, os marxistas e as igrejas cristãs; ensinava que a igualdade entre todos
os homens, praticado pelos maçons, era um equívoco, pelo qual estavam
procurando poder sobre o mundo inteiro.
Em 07 de abril de 1933, Hermann Goering, que
quase chegou a ser maçom, realizou uma entrevista com o Grão-Mestre Von
Heeringen, da Grande Loja da Alemanha, dizendo-lhe que não havia lugar para a
Maçonaria na Alemanha nazista.
Apesar do massacre nas instituições
maçônicas, durante esse período, e o confinamento em campo de concentrações
nazista, os “Filhos da Viúva”, que provaram do doce da bebida e foram obrigados
a esgotar o resto de seu amargor, nunca deixaram de vivenciar o espírito
maçônico de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Vencendo todas as
dificuldades, em 15 de novembro de 1943, sete maçons belgas e lutadores da
Resistência, fundaram, dentro do Barraco nº 6, no campo de concentração de Hut
Emslandagler, na cidade de Esterwegen, na Alemanha, a Loja Maçônica “Liberté
Chérie” (Querida Liberdade).
O nome da Loja foi inspirado na “La
Marseillaise” – o Hino Nacional da França - composto por Claude Joseph Rouget
de Lisle, em 1792, um oficial do exército francês e músico autodidata, da
divisão de Estrasburgo, como uma canção revolucionária. A canção adquiriu
grande popularidade durante a Revolução Francesa, especialmente, entre as
unidades do exército de Marselha, ficando conhecida como “La Marseillaise”.
Os Maçons eram enviados aos campos de
Concentração como prisioneiros políticos e forçados a usar um “Triangulo
Vermelho Invertido”. Motivo pelo qual ele aparece no brasão da Loja. Franz
Bridouxfoi, um prisioneiro em Esterwegen, onde conheceu os Maçons e a Loja por
eles fundada, foi o responsável pelas pesquisas sobre a história de sua
fundação.
O primeiro comboio de presos políticos NN
(Nacht und Nebel) chegou, em Esterwegen, no dia 21 de maio de 1943; o segundo,
em 28 de maio de 1943. Dentre eles, os primeiros maçons: Franz Rochat
(1908-1945), farmacêutico, colaborador do jornal clandestino "La Voix des
Belges", foi iniciado na Loja Maçônica " Les Amis Philanthropes
N°3", em Bruxelas; Jean Sugg (1897-1945), representante comercial de
produtos farmacêuticos, membro da Resistência e membro da Loja Les"Amis
Philanthropes N°3"; Guy Hannecart (1903-1945), advogado, dirigente do
jornal "Voix des Belges" e membro da Loja "les Amis
Philanthropes N°3"; Paul Hanson (1889 - 1944), Juiz de Paz, em Louvain,
pertencente ao serviço de informação e membro da Loja Hiram, na cidade de
Liège. Esses quatro maçons foram os responsáveis de iniciar os preparativos
para a fundação da Loja.
Relativamente isolados, os quatro
idealizadores puderam fazer as primeiras reuniões, ainda, como uma espécie de
Triângulo Maçônico, porém, com a chegada de novos Irmãos, transformar-se-ia em
Loja Maçônica, a "Liberté Chérie". Ocorriam reuniões, ainda que
improvisadas, porém com redação de atas e discussões maçônicas.
Em meados de outubro de 1943, chegam a
Esterwegen, os maçons Luc Somerhausen (1903-1982), jornalista, iniciado na Loja
“Action et Solidarité”, ao qual coube a tarefa de escrever o estatuto da futura
Loja, dada sua experiência maçônica, e, mais tarde, em comunicado, por ele
enviado à Grande Oriente da Bélgica, obter o reconhecimento oficial da Loja
"Liberté Chérie". Joseph Degueldre (1904-1981), médico, membro da
Loja "Travail", em Verviers, e membro do Serviço Secreto do Exército
Belga. O grupo dos sete fundadores se completou em 22 de novembro de 1943, com
a chegada do Irmão Amédée Miclotte (1902 - 1945), professor, membro da Loja
"Verdadeiro Amigos da União e Progresso”. Com ele, o número mínimo de sete
irmãos maçons para a fundação da Loja fora alcançado, e, em 15 de novembro de
1943, a criação da Loja e o seu reconhecimento, na segunda metade de novembro
de 1944. Coube ao Irmão Paul Hanson a honra de ser eleito seu Venerável Mestre.
Fernand Erauw - Diretor no Ministério do
Exército e Tenente do Exército do Serviço Secreto Belga - foi iniciado na Loja
“Liberté Chérie”. Após a primeira reunião, com a admissão do novo irmão, outras
sessões foram preparadas tematicamente. Uma delas foi dedicada ao símbolo do
Grande Arquiteto do Universo, outra ao "Futuro da Bélgica", e mais
uma "A posição das mulheres na Maçonaria". O Irmão Luc Somerhausen
descreveu a iniciação do Irmão Fernand Erauw como uma cerimônia muito simples.
Em verdade, devido às precárias condições e a iminência de serem descobertos a
qualquer momento, os rituais praticados eram o mais simplificado possível.
A “Liberté Chérie” foi uma das poucos Lojas
Maçônicas fundadas dentro de um campo de concentração nazista durante a Segunda
Guerra Mundial. No barraco nº 6, haviam militares, funcionários públicos,
médicos, advogados, jornalistas, padres, professores, estudantes, comerciantes,
trabalhadores e aristocratas. Os grupos foram se formando por afinidades
linguísticas e pela participação de alguns de seus membros na Resistência.
Como estratégia, para que os irmãos pudessem
realizar suas reuniões em sigilo protegido, traziam sacerdotes católicos, para
orações coletivas em voz alta, para os demais prisioneiros do Barraco nº 6,
enquanto realizavam suas reuniões maçônicas. Os fiéis eram muito mais numerosos
e, no domingo pela manhã, reuniam-se na parte inferior do dormitório para a
missa. Então, relativamente, isolados os maçons podiam fazer suas reuniões.
De todos os membros da Loja “Liberté Chérie”,
apenas, os Irmãos Somerhausen e Erauw sobreviveram ao holocausto. Devido ao
extermínio de seus demais membros, a Loja encerrou suas atividades no início de
1944.
Um monumento criado pelo arquiteto Jean de
Salle, foi levantado pelos maçons belgas e alemães, no dia 13 de novembro de
2004. Hoje, ele faz parte do memorial do Cemitério de Esterwegen. Wim Rutten, o
Grão-Mestre da Federação Belga dos Direitos Humanos assim se expressou, durante
o ato de fundação: “Nós estamos aqui reunidos, hoje, neste cemitério, em
Esterwegen, não em luto, mas para expressar o livre pensamento, em público, em
memória de nossos irmãos. Os direitos humanos, jamais, devem ser esquecidos”.
Escultura dos 7 Maçons no Memorial do Cemitério de Estervegen |
Este texto é fruto de compilação em diversos
artigos publicados na Internet.
(*) O autor é o Grande Bibliotecário do Supremo
Conselho, Editor Responsável do Informativo ASTRÉA NEWS e da REVISTA MAÇÔNICA
ARTE REAL www.entreirmaos.net
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