Em uma pequena ilha do mar Egeu, na Grécia,
próximo ao litoral da Ásia Menor – a ilha de Kós – floresceu no século V a.C.
uma escola médica destinada a mudar os rumos da medicina, sob a inspiração de
um personagem que se tornaria, desde então, o paradigma de todos os médicos –
Hipócrates.
A escola hipocrática separou a medicina da
religião e da magia; afastou as crenças em causas sobrenaturais das doenças e
fundou os alicerces da medicina racional e científica. Ao lado disso, deu um
sentido de dignidade à profissão médica, estabelecendo as normas éticas de
conduta que devem nortear a vida do médico, tanto no exercício profissional,
como fora dele.
Na coleção de 72 livros contemporâneos da
escola hipocrática, conhecida como Corpus hippocraticum, há sete livros que
tratam exclusivamente da ética médica. São eles: Juramento, Da lei, Da Arte, Da
Antiga Medicina, Da conduta honrada, Dos preceitos, Do médico.
Sobressai dentre eles o Juramento, a ser
proferido por todos aqueles considerados aptos a exercer a medicina, no momento
em que são aceitos como tal pelos seus pares e admitidos como novos membros da
classe médica. O juramento hipocrático é considerado um património da
humanidade por seu elevado sentido moral e, durante séculos, tem sido repetido
como um compromisso solene dos médicos, ao ingressarem na profissão.
Textos
manuscritos preservados
O texto do Juramento de Hipócrates que hoje
se encontra em vários idiomas resultou de traduções oriundas de antigos e raros
manuscritos. Embora sem comprovação, aceita-se que os citados manuscritos
reproduzem o texto original de quando o mesmo foi escrito. Os mais antigos
manuscritos conhecidos, segundo Bernardes de Oliveira, são:
1.
“O
manuscrito Urbinas Graecus 64 da Biblioteca Apostólica Vaticana”. “Está
localizado entre os séculos X e XI. Suas palavras iniciais esclarecem: ‘Texto do
Juramento Hipocrático que pode ser jurado pelos cristãos’. O interessante
documento é escrito em forma de cruz para bem marcar o patrocínio religioso”.
“Inicia-se com a saudação laudatória habitual: ‘Bendito seja Deus, o Pai de
Nosso Senhor Jesus Cristo; para sempre bendito seja…’ Sua redacção acompanha o
texto clássico com algumas variantes e alterações das quais a principal é a
omissão da cláusula referente à operação da calculose”.
2.
“O
segundo, por ordem de antiguidade, é o manuscrito Marcianus Venetus Z 269, do
século XI, pertencente à Biblioteca de S. Marcos de Veneza. O juramento aí se
acha como sendo o texto original. Inicia-se com a invocação dos deuses da
mitologia grega, consoante sua origem pagã”.
3.
“Manuscrito
do século XII da Biblioteca Apostólica Vaticana: Vaticanus Graecus 276, follio
1 recto.
4.
“Manuscrito
do século XII da Biblioteca Nacional de Paris.”
O último manuscrito citado encerra a versão
pagã, com a invocação inicial dos deuses da mitologia grega e corresponde ao
texto mais difundido atualmente.
Os demais manuscritos conhecidos do juramento
de Hipócrates são todos dos séculos XIV e XV. Embora sejam equivalentes,
verificam-se pequenas diferenças de redação. O número de palavras, por
exemplo, oscila de 246 a 251.
Formas
resumidas do juramento
Textos abreviados do juramento têm sido
utilizados em diferentes países e idiomas, tendo em vista a extensão do texto
original para leitura durante uma solenidade festiva como a da conclusão do
curso médico.
A Declaração de Genebra da Associação Médica
Mundial – 1948, a mais antiga e conhecida de todas, tem sido utilizada em
vários países na solenidade de recepção aos novos médicos inscritos na
respectiva Ordem ou Conselho de Medicina. A versão clássica em língua
portuguesa tem a seguinte redação:
“Eu, solenemente, juro consagrar minha
vida a serviço da Humanidade.
Darei como reconhecimento a meus
mestres, meu respeito e minha gratidão.
Praticarei a minha profissão com
consciência e dignidade.
A saúde dos meus pacientes será a
minha primeira preocupação.
Respeitarei os segredos a mim
confiados.
Manterei, a todo custo, no máximo
possível, a honra e a tradição da profissão médica.
Meus colegas serão meus irmãos.
Não permitirei que concepções
religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu
dever e meus pacientes.
Manterei o mais alto respeito pela
vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento
médico em princípios contrários às leis da natureza.
Faço estas promessas, solene e
livremente, pela minha própria honra.”
“Atualização”
do juramento de Hipócrates
Durante o século XX o progresso científico e
o avanço tecnológico da medicina, aliados à evolução do pensamento e dos
costumes, trouxeram novos conceitos e novos aspectos relativos à ética médica e
a validade do juramento de Hipócrates passou a ser questionada, se não em seu
significado simbólico, pelo menos em seu conteúdo.
Surgiram, então, numerosas propostas no
sentido de “atualizar” ou “modernizar” o texto do juramento. Esta tendência se
acentuou nos últimos anos.
As alterações sugeridas visam, principalmente,
a compatibilizá-lo com a Bioética e adaptá-lo à problemática decorrente da
prática médica atual, com o objectivo de evitar a conivência dos médicos com
as falhas dos atuais sistemas de saúde, sempre que houver prejuízo para os
doentes, e com os interesses financeiros da indústria farmacêutica e de
equipamentos médicos, que procuram influenciar a conduta do médico.
Fraternalmente,
Ir:. Gabriel Campos de Oliveira
Fonte: freemason.pt
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