Por Rui Bandeira
A aventalite é uma afeção que assola alguns
maçons, geralmente de forma aguda, passageira e facilmente curável, mas podendo
evoluir para uma forma crônica, essa necessariamente mais séria e com um
tratamento mais demorado e cura mais problemática.
Manifesta-se por uma despropositada inflação
do ego, injustificada sensação de superioridade, perturbador sentimento de
poder e, nos casos menos ligeiros, inadequado comportamento em relação aos seus
iguais, vistos pelo afetado como inferiores ou subordinados, por não usarem
aventais XPTO.
A aventalite é suscetível de atacar Grandes
Oficiais e dignitários de Altos Graus, independentemente da Obediência, seja
Grande Loja ou Grande Oriente, assuma orientação mais anglo-saxónica ou mais
francesa, e pode atacar tanto homens como mulheres, embora empiricamente pareça
ser mais frequente naqueles.
O tratamento da sua forma aguda é fácil e
geralmente eficaz, se aplicado na fase inicial da doença. Consiste numa severa
e sonora censura, com solene declaração de que se não tem paciência para aturar
maneirices de armados em mete-nojo, acompanhada de expressa chamada de atenção
para a Igualdade que obrigatoriamente reina entre os maçons e uma injeção de
recordatória de que o exercício de ofícios em Grande Loja ou Grande Oriente ou
funções em Altos Graus são meros serviços, tarefas, ofícios a serem
desempenhados com zelo e humildade e não honrarias ou reconhecimentos de
inexistentes superioridades.
Nos casos mais graves, pode ser necessário um
reforço de tratamento com recurso a expressões vernáculas, envios para determinados
sítios não propriamente prestigiados e
solenes avisos de que, ou o afetado atina e deixa de se continuar a armar ao
pingarelho, ou é melhor continuar a enganar-se dando voltas ao bilhar grande,
que junto dos seus iguais (quer ele queira, quer não) não vai ter grande sorte.
Nas formas mais leves da afeção, e sobretudo
quando o doente é de boa índole, o tratamento mais suave chega para debelar a
afeção, sem sequelas. Podem, no entanto, ocasionalmente observar-se recaídas,
em regra facilmente tratáveis com uma observação chocarreira e bem-humorada,
como, por exemplo, Lá estás tu outra vez a deixar o aventaleco janota subir-te
à cabeça. Deixa-o lá sossegadimho e não te estiques, que és melhor que isso...
Nas formas mais severas, afeção prolongada ou
doentes com obtusidade cerebral, é indispensável o tratamento reforçado,
repetido as vezes que forem necessários até o doente ir ao sítio. No entanto,
quer a índole mais difícil do doente, quer a maior agressividade do tratamento
podem dar origem a efeitos secundários ou sequelas desagradáveis,
designadamente amuos e afastamentos. Nas situações verdadeiramente graves e
reincidentes pode mesmo ser necessário aplicar quarentena.
A aventalite é uma afeção oportunista que se
manifesta com mais frequência em ambientes poluídos por regras, expressas,
implícitas ou consuetudinais, que favoreçam, ou mesmo imponham, o uso com
demasiada frequência e em locais inapropriados de aventais XPTO. O oportunismo
da aventalite aproveita qualquer desatenção que permita ou propicie o uso
desadequado e fora do seu ambiente próprio dos ditos aventais XPTO.
Para além do tratamento dos casos concretos
dos afetados pela doença, é importante que se faça adequada prevenção, para
evitar novas infeções, recidivas e recaídas.
Recomenda-se assim revisão das normas
regulamentares e das práticas que não limitem o uso dos aventais XPTO aos
locais e ocasiões adequados. Designadamente, é de toda a conveniência que se
tenha presente que, na sua Loja, o obreiro é um elemento do Quadro desta,
absolutamente igual aos demais, nem mais, nem menos que qualquer dos outros e,
que, consequentemente, fique inquestionavelmente assente que nenhum obreiro, na
sua Loja, usa avental XPTO, antes devendo usar o avental do seu grau e, se for
caso disso, a insígnia da sua qualidade na Loja, sendo absolutamente
indiferente posição ou ofício que porventura tenha na Grande Loja, Grande
Oriente ou nos Altos Graus. A Loja é independente e livre e em nada inferior à
Grande Loja ou Grande Oriente (pelo contrário, é a Loja que, juntamente com as
outras, determina a regulamentação essencial da Grande Loja ou Grande Oriente e
elege o seu responsável máximo). Esta regra deve ter como única exceção -
certamente ocasional - a situação em que o obreiro se apresente na Loja, não na
sua qualidade de obreiro dela, mas no efetivo exercício da sua função de Grande
Oficial ou em representação expressa do Grão-Mestre.
Este princípio deve ser extensivo à visita a
outras Lojas. Se o obreiro faz visita a título pessoal, não faz sentido, e
propicia a aventalite, que use outro avental que não o do seu grau. Se a
deslocação, porém, se fizer no exercício das suas funções de Grande Oficial ou
em representação do Grão-Mestre, então, e só então, justifica-se que use o seu
avental XPTO.
Claro que, em Assembleias de Grande Loja ou
Grande Oriente, aí sim, está-se em pleno espaço e tempo em que é justificado e
adequado o uso de aventais XPTO. Aí e nessas ocasiões, não há qualquer
inconveniente. Trata-se de um uso moderado e adequado de avental XPTO, que, por
regra, não propicia nem aumenta o risco de contágio pela irritante aventalite.
A bem da saúde dos maçons, exorto a que esta
atividade de prevenção seja feita. É saudável. é amiga do ambiente e, sobretudo,
é... maçônica!
Fonte: A Partir Pedra
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