Por Barbosa Nunes (*)
Jefferson Peres |
Em
tempos de corrupção institucionalizada, quando delatores, para fugir de penas
mais severas, livrando suas peles, entregam aqueles que os indicaram para
prestar-lhes benefícios pessoais. A classe política em tremedeira esta com
muito medo. Ao amanhecer, muitos
encontram a Polícia Federal em suas portas. Corrupção ramificada e enraizada
por setores públicos, empresariais. A cada dia novas revelações isto é bom,
muito bom.
Para
o cidadão Jefferson Peres, que morreu em 23 de maio de 2008, tudo já ocorria e
era previsível sua abrangência, em especial, aos políticos e administradores
deste país. Jefferson Peres nasceu em Manaus em 18 de março de 1932, formado em
Direito pela Universidade Federal do Amazonas e em Administração de Empresas,
pela Fundação Getúlio Vargas. Foi professor na Universidade Federal do Amazonas
e ingressou na vida parlamentar em 1988, elegendo-se vereador e reeleito em
1992. Chegou ao Senado em 1995, também sendo reeleito. Durante toda sua vida
pública encontrou na defesa da ética, uma de suas principais bandeiras.
Em
último discurso como defensor intransigente da democracia, manifestou no
plenário do Senado, no dia 30 de agosto de 2006, o seu profundo desalento com o
deserto político brasileiro. Passados dez anos, a perturbadora atualidade do
discurso ajuda a compreender a revolta do povo, especialmente, nestes últimos
tempos.
Seu
pronunciamento foi intitulado “O meu desalento é profundo”, assim se
expressando em alguns parágrafos que reproduzo.
“Gostaria
de estar aqui discutindo, como fez o Senador José Jorge, a respeito das
riquezas naturais do Brasil, com as quais ele tanto se preocupa, e não como
falarei, sobre algo muito pior: a dilapidação do capital ético deste País. Poderíamos
não ter um barril de petróleo nem um metro cúbico de gás, mas poderíamos ser
uma das potências mundiais em termos de desenvolvimento. O Japão não tem nada.
Não tem petróleo, gás ou riquezas minerais. A Coréia do Sul também não tem nada
disso, e nos dá um banho em termos de desenvolvimento não apenas econômico, mas
também humano.
O
que está faltando mesmo a este País e sempre faltou é uma elite dirigente com
compromisso com a coisa pública, capaz de fazer o que precisaria ser feito:
investimento em capital humano.
Como
se ter animação com um presidente que, até poucos meses atrás, era sabidamente
"como o é" um presidente conivente com um dos piores escândalos de
corrupção que já aconteceu neste País e este presidente está marchando para ser
eleito, talvez, em primeiro turno? É desinformação da população? Não, não é.
Se
fizermos uma enquete em qualquer lugar deste País, todos concordarão, ou a
grande maioria, que o presidente sabia de tudo. Então, votam nele sabendo que
ele sabia. A crise ética não é só da classe política, não, parece que ela
atinge grande parte da sociedade brasileira. Ele vai voltar porque o povo quer
que ele volte. Democracia é isso. Curvo-me à vontade popular, mas inconformado.
Esta será uma das eleições mais decepcionantes da minha vida. É a declaração
pública, solene, histórica do povo brasileiro de que desvios éticos por parte
de governantes não têm mais importância”.
Até
2010, seguiria, não fosse seu falecimento, entrincheirado na tribuna,
combatendo o presidente então em campanha pela reeleição. Encerrado o mandato,
pretendia “continuar pelejando por todos os meios possíveis”, mas longe do
coração do poder. Não queria permanecer no cenário do mensalão, “um dos piores
escândalos de corrupção deste país”, planejado e concluído com a conivência do
presidente da República. Lula sabia de tudo, constatou. Nem do “mensalão” e nem
da “Lava Jato”, mas foi combatido e apontou o que os donos do poder fariam na
sequência, levando o país a esta situação.
“Tenho
quatro anos de Senado. Não me candidatarei em 2010, não quero mais viver a vida
pública. Vou cumprir o mandato que o povo do Amazonas me deu, não vou
silenciar. Ele pode ser eleito com 99,9%. Eu estarei aí na tribuna dizendo que
ele deveria ter sido mesmo destituído. O que ele fez é muito grave. É muito
grave. Curvo-me à vontade popular, mas não sem o sentimento de profunda
indignação. A classe política já nem se fala, essa já apodreceu há muito tempo
mesmo. Este Congresso que está aqui, desculpem-me a franqueza, é o pior de que
já participei.
É
a pior legislatura da qual já participei. Claro,
com uma minoria ilustre, respeitável, a quem cumprimento. Mas uma maioria,
infelizmente, com nível intelectual e moral tão baixo, eu nunca vi. O que se
pode esperar disso aí? Não sei. Eu não vou mais perder o meu tempo. Vou
continuar protestando sempre, cumprindo o meu dever. Não teria justificativa
dizer que não vou fazer mais nada. Vou cumprir rigorosamente o meu dever neste
Senado até o último dia de mandato, mas para cá não quero mais voltar, não!
Um
País que tem um Congresso desse, que tem uma classe política dessa, que tem um
povo... Dizem que político não deve falar mal do povo. Eu falo, eu falo. Parte
da população que compactua com isso? É lamentável. E que sabe. Não é por
desinformação, não. E que não é só o povão, não. É parte da elite, inclusive
intelectual vou continuar nessa vida pública? Para quê.
Vou
continuar pelejando pelos jornais e por todos os meios possíveis, mas, como
ator na vida política e na vida pública deste País, depois de 2010, não quero
mais! Elejam quem vocês quiserem! Podem chamar até o Fernandinho Beira-Mar e
fazê-lo presidente da República - ele não vai com o meu voto, mas, se quiserem,
façam-no.
O
meu desalento é profundo. Deixo isso registrado nos Anais do Senado Federal.
Infelizmente, eu gostaria de estar fazendo outro tipo de pronunciamento, mas
falo o que penso, perdendo ou não votos pouco me importa. Aliás, eu não quero
mais votos mesmo, pois estou encerrando a minha vida pública daqui a quatro
anos, profundamente desencantado com ela”.
Se
estivesse vivo, o senador veria uma paisagem muito pior. Mas certamente o
animaria a certeza de que a solidão acabou.
Hoje,
surgiu Sergio Moro e as mais profundas e escondidas mazelas estão vindo à tona,
graças a Policia Federal, Ministério Publico Federal e o Supremo Tribunal
Federal, que tem o ministro como Teori Zavascki.
Moro
e Teori, dupla que resgata a moralidade publica, nos da esperança, recebe a
vibração positiva e aplausos da sociedade brasileira.
Não
haverá forças para mudar este processo de redenção de moralidade.
Que
assim continue.
(*) Barbosa
Nunes, é Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil - barbosanunes@terra.com.br
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