Atualmente
a sexta-feira 13 de qualquer mês do ano, é vista como um dia de azar, um dia de
mau agouro. No entanto, de onde surgiu tal ideia? As histórias são várias,
desde acontecimentos verídicos, a fatos de cunho religioso, mitológico e até
mesmo místico. No entanto, talvez uma das histórias que tenha dado origem a
esta superstição tenha sido a condenação da Ordem dos Templários.
A
Ordem dos Templários ou Ordem do Templo (A Ordem dos Pobres Cavaleiros de
Cristo e do Templo de Salomão, nome oficial), surgiu entre 1113 e 1118 sendo
oficializada pela Igreja e tendo como patrono São Bernardo de Claraval,
tendo sido formada por alguns nobres franceses que decidiram após a Primeira
Cruzada (1095-1099), expedição essa ordenada pelo papa Urbano II, a
fim de apoiar e libertar os cristãos que viviam na Terra Santa, e de fato
recuperar o domínio de Jerusalém e da Terra Santa, das mãos dos
muçulmanos. A primeira Cruzada contou com o apoio de vários senhores feudais,
que encaminharam seus exércitos rumo a Terra Santa, daí também ser conhecida
como a “Cruzada dos Príncipes” ou a “Cruzada dos Nobres”. Lembrando, que neste
tempo onde imperava o feudalismo em parte da Europa, eram os nobres que
controlavam a guerra. Nobres franceses decididos a defender e garantir a
segurança da Terra Santa reconquistada pelos cruzados, começaram a proteger os
peregrinos cristão e a auxiliar os Estados Latinos criados para governar a
Terra Santa. A Igreja oficializou a ordem e essa passou a se tornar bastante
influente com o tempo.
A
medida que os anos prosseguiam após a Primeira Cruzada, mais homens adentravam
a Ordem dos Templários, passando a servir nos Estados Latinos, os quais foram
formados por nobres europeus para governarem a Terra Santa, contudo, alguns dos
cruzados depois de alguns anos longe de casa, começaram a voltar para suas
terras, levando consigo tesouros e relíquias. Reza a lenda que eles
teriam encontrado o Santo Graal e o escondido em algum lugar
da Europa. Todavia, em dois séculos, os templários era uma ordem respeitada e
influente, e alguns de seus membros haviam ficado bem ricos, pois a pilhagem
não era algo totalmente proibido, e muitos cruzados aproveitaram para roubar
os muçulmanos, assim como outros cometeram crimes de estupro e
assassinato. Mas, a questão principal foi que em meados do século XIII os
templários já representavam uma das ordens mais ricas, respeitadas e temidas da
Europa. E tal questão seria o pivô para a sua ruína.
O
rei de França, Filipe IV, o Belo (1268-1314), envolto em vários problemas
políticos, financeiros e militares, teve que muitas vezes recorrer ao ouro dos
templários, para solucionar seus problemas; no entanto, este cada vez mais ia
se vendo endividado com eles, e queria por um fim em tal questão. O rei
planejou tomar o controle da Ordem, e assim banir suas dívidas com os
cavaleiros templários, mas ao mesmo tempo ter acesso as riquezas e o poderio
bélico deles, afinal ainda eram tempos de feudalismo, onde os reis não possuíam
total influência e poder sobre seus reinos, e dependia da vassalagem para poder
governar.
Filipe
nos últimos anos vinha empreendendo expedições militares para consolidar seu
poderio sobre territórios vizinhos, como Flandres e a Lombardia.
Sabe-se que de 1290 a 1309, Filipe havia enviado várias tropas e ordenado
vários ataques, isso acabou pesando para os cofres do Estado, o que o levou a
perseguir judeus para confiscar suas riquezas, confiscou propriedades de
banqueiros na Lombardia e até mesmo a confiscar bens de feudos da Igreja, algo
que levou o Papado a confrontar o rei, o qual recebeu a alcunha de “O
Rei de Ferro”. Ele também fez acordos com os ingleses onde arranjou o
casamento de sua filha Isabel com o príncipe Eduardo
de Gales (futuro rei Eduardo II da Inglaterra), tal casamento formou
uma aliança entre os dois reinos, até que anos depois seria um dos motivos para
o início da Guerra dos Cem Anos. Também se mostrou disposto a
cooperar com os mongóis no Oriente para combater os muçulmanos.
A
partir de 1295 o então papa Bonifácio VIII começou uma
“batalha” diplomática expedindo bulas que proibiam o confisco das terras da
Igreja pela Coroa francesa ou a apropriação dos bens de seus feudos. Essa luta
se estendeu até o ano de 1300, onde após vários debates calorosos entre o rei e
seus vassalos, assim como com burgueses da Itália, onde o rei convenceu a negar
aceitar as bulas papais, o papa Bonifácio VIII ameaçou de excomungá-lo e até mesmo
excomungar toda a França. O rei revoltado com aqui, enviou um representante
para prender o papa e de fato isso aconteceu, o mesmo foi levado preso para Avignon.
Bonifácio
VIII veio a falecer em 1303, sendo sucedido por Bento XI, o qual
governou por menos de um ano. Bento XI procurou corrigir alguns problemas deixados
por seu antecessor, principalmente o que envolvia problemas de ordem política
com os outros Estados italiano e nações estrangeiras, além dos problemas entre
a forte rixa do partido dos Guelfos em Florença, o que levou ao
exílio do poeta Dante Alighieri (1295-1321). Contudo o papa
adoeceu e faleceu, na época surgiu boatos que teria sido envenenado. Seu
sucessor foi o papa Clemente V(1264-1314, o qual conseguiu ser
eleito graças os contatos do rei Filipe IV o qual estava interessando em ter
“maior controle” sobre o papado.
O
papa passou a cooperar com a política do Rei de Ferro, e em 1309 transferiu a
sede do papado de Roma para Avignon. Mas, dois anos antes de ele fazer isso,
ele cooperou com o rei francês para impor uma ardil traição a Ordem dos
Templários.
Como
dito anteriormente, Filipe IV tinha interesse de controlar a Ordem dos
Templários, ou pelo menos melhorar suas relações com eles, já que a ideia era
ter acesso a riqueza deles e o poderio militar, lembrando que na Idade Média a
partir do século X era a nobreza que ditava as guerras, algo que ficará marcado
ainda na Idade Moderna. Em 1305, o rei queria levar sua proposta ao
então Grão-Mestre da Ordem dos Templários, Jacques de Molay (1244/1250-1314),
o qual era amigo do rei e padrinho do delfim (herdeiro do trono) Carlos.
Filipe queria que Jacques coopera-se com seus planos expansionistas e até mesmo
cogita-se aceitar a união dos templários com os hospitalários,
ordem criada durante a Primeira Cruzada.
Praticamente
todos os cavaleiros templários eram nobres, pois ser cavaleiro na Idade Média,
era ter um título de nobreza, e não apenas ser os guerreiros que lutava a
cavalo. Assim, todos os cavaleiros eram nobres, e sendo nobres, eles possuíam
propriedades e requeriam por seus serviços propriedades, algo visto no acordo
da vassalagem. O problema é que, no início da Ordem, os templários fizeram voto
de pobreza, pois embora fossem nobres, estavam naquele momento a serviço da
Igreja e de Deus, mas com o passar do tempo, esse voto foi rompido, e eles como
qualquer outro nobre passaram a enriquecer. Estima-se que o exército dos
templários contava com 10 a 20 mil soldados, sendo que os dirigentes eram os
nobres que formavam a cavalaria.
Desenho do século XIX retratando Jacques de Molay, o último Grão-Mestre da Ordem dos Templários. Lembrando que o desenho é hipotético, pois não se conhece a verdadeira fisionomia dele. |
Como
de Molay não atendeu o desejo do rei, Filipe começou a romper a amizade com ele
e em 1307 veio o traiçoeiro golpe. Jacques de Molay e alguns cavaleiros
templários seguiram para comparecer e prestar condolências a um funeral de uma
nobre, na ocasião era uma sexta-feira 13 de outubro. Guilherme de
Nogaret o qual era chefe da guarda real do rei Filipe, além de ter
sido nomeado chanceler, e responsável por ter dado voz de prisão ao papa
Bonifácio VIII sete anos antes, foi incumbido de aprisionar Jacques e seus
cavaleiros, os quais foram jogados em masmorras onde ficariam sete anos presos,
sendo mal tratados e torturados.
O
documento escrito com a sentença aos templários, redigido por Nocaret foi
enviado ao papa Clemente V como justificativa de iniciar uma caçada aos membros
da ordem. O papa decidiu que para o ano seguinte convocaria um concílio para
debater o pedido do rei francês em se iniciar um processo inquisitorial para
investigar supostos crimes de heresia que estavam sendo cometidos pelos
cavaleiros templários. O papa expediu duas bulas Faciens
misericordiam e Regnans in coelis, convocando o
chamado Concílio de Vienne, cidade localizada no sul da França.
As
bulas foram expedidas em agosto e o concílio seria realizado em setembro
daquele ano, onde foi exigido que o grão-mestre e seus representantes
comparecessem para se defender das acusações, mas como estes estavam
encarcerados, e outros cavaleiros não apareceram, o concílio foi suspenso por
alguns anos, até que em 1311, ele veio a ocorrer em 16 de outubro. Na ocasião
os cardeais não estavam satisfeitos com as provas mostradas pelo representantes
do rei, embora que nesses anos, alguns templários foram perseguidos por ordens
do rei Filipe IV, a contra gosto da Igreja.
Além
de se deliberar sobre o julgamento dos cavaleiros, também debatia-se a questão
do confisco de bens e das terras, como também cogitava-se empreender uma nova
cruzada a Terra Santa. Não gostando disso, o rei Filipe enviou em fevereiro de
1312 uma comitiva para pressionar o papa, mas este negou-se a decretar uma
sentença sem ter uma conclusão exata do Processo dos Templários. O rei viajou
em março para Lyon e de lá para Vienne, indo conversar pessoalmente com o papa,
e de alguma forma ele pressionou o pontífice a convencer o Concílio a decretar
uma sentença. Em22 de março foi emitida a bula Vox in
excelso.
A
bula foi aprovada pelo Concílio em 3 de abril daquele ano,
decretando a dissolução da Ordem dos Templários, a retirada do apoio
papal aos seus membros, a revogação dos direitos lhe concedidos pelos papas
anteriores e o confisco de suas propriedades. Ainda no mesmo ano, o papa
decretou outras bulas que trataram de convocar uma nova cruzada (a qual não
aconteceu) como também deliberou acerca da sentença e execução dos templários e
o trato do confisco de suas propriedades. O rei Filipe usou o pretexto dessa
nova cruzada, para aumentar os impostos sobre a população, alegando que se em
caso dele morresse dentro de um período de cinco ou seis anos, seria dever de
seu filho proceder com essa santa guerra, mas descobriu-se que o rei desviou o
dinheiro para armar um exército a fim de invadir novamente Flandres.
De
1312 pelos anos seguintes os cavaleiros foram perseguidos, presos, tiveram seus
bens confiscados e foram mortos. Contudo, a bula não reconhecia propriamente a
veracidade dos crimes de heresia pelos quais eles foram acusados, e pelos quais
alguns confessaram sob tortura imposta pelos carrascos do rei. Jacques de Molay
e seus companheiros que não morreram durante os sete anos de prisão, foram
condenados a serem queimados na fogueira como verdadeiros hereges.
Reza
a lenda que antes de Jacques de Molay morrer teria amaldiçoado o rei Filipe IV
e o Papa Clemente V, alegando que estes seriam julgados por Deus em um ano, e
em breve os três voltariam está cara a cara. Verdade ou não se ele realmente
teria dito isso, de fato, tanto o rei e o papa, vieram a morrer no ano de 1314.
Placa memorial assinalando o local de execução de Jacques de Molay em 18 de março de 1314, em Île de la Cité (Ilha da Cidade). Ilha esta onde também se encontra a Catedral de Notre-Dame de Paris. |
No
entanto, há poucos anos foi descoberto o Pergaminho de Chinon, o qual foi
escrito pelo Papa Clemente V por volta de 1308, onde secretamente ele teria
absolvido tanto Jacques de Molay, e dentre outros cavaleiros, alegando que o
processo iniciado pelo rei não tinha comprovações plausíveis sobre as acusações
de heresia feita por ele. Mesmo assim, a Ordem foi extinta e
seus representantes foram mortos na fogueira até 1314. Os templários,
que sobreviveram se tornaram um grupo clandestino e secreto, o que abriu espaço
para lendas sobre os rumos que a ordem tomou depois disso.
De
qualquer forma, a história dos templários ainda se desenrolou depois deste
acontecimento; mas a data de sua acusação, a sexta-feira 13 de 1307 ficou
marcada na história como um dia de azar, de infortúnio, calunia e traição.
Outras questões para o mau agouro
da sexta-feira 13:
Até
aqui vimos um fato histórico, considerado pelos historiadores como um dos motivos
para o desenvolvimento da superstição sobre a sexta-feira 13 e do próprio
número 13. Contudo, historiadores e cientistas da religião apontam que
existem outros fatores que também teriam contribuído para o desenvolvimento
dessas superstições.
Alguns
relatos sem comprovação, dizem que Jesus Cristo teria
sido crucificado numa sexta-feira 13, a Sexta-feira da Paixão.
Dize-se
também que na quinta-feira quando ocorreu a Última Ceia, havia
treze pessoas na ocasião, os Doze Apóstolos e Jesus, sendo que
o 13 seria referência a Judas Iscariote, o qual traiu Jesus no dia seguinte.
No Tarô,
a carta de número 13 simboliza a Morte.
No zodíaco grego o
qual possui 12 signos, também possuiria o décimo terceiro signo, o Signo
de Serpentário, porém a astrologia retirou esse signo, pois rompia com a
ideia de 12. Praticamente todos os zodíacos possuem 12 signos, embora que
astronomicamente, a Constelação de Serpentário ou Ofiúco se
encontre entre as Constelações de Escorpião e Libra.
O
13 é visto em algumas religiões como o Cristianismo e o Judaísmo como um número
irregular: 12 Apóstolos, 12 Tribos de Israel, 12 meses, 12 signos zodiacais, 12
constelações zodiacais, 12 horas, etc., logo o 12 seria um “número de sorte”,
um número de “equilíbrio”.
NOTA: Sexta-feira
13 (Friday 13) é uma popular série de filmes de terror, que
conta a história do amaldiçoado assassino Jason Voorhees.
NOTA 2: Em
algumas cidades e vilas portuguesas celebra-se festas na data da sexta-feira
13, onde as festas lembram um pouco o Halloween contemporâneo, já que o
Halloween original é bem diferente do de hoje em dia. Os portugueses consideram
essa data não como mau presságio, mas como um número de sorte.
NOTA 3: Adolf
Hitler era bastante supersticioso com o número 13, tal fato é visto
quando notamos que nenhum dos aviões, tanques, bases, carros, armas, etc.,
levavam o número 13.
NOTA 4: A
ideia da superstição do número 13 é algo bastante ocidental, principalmente na
Europa e nas Américas.
NOTA 5: A
série de jogos, revistas e livros Assassin’s Creed, tem os
templários como grandes vilões, onde se conta que os mesmos após terem sido
banidos em 1312 teriam se organizado e passando a agir na
clandestinidade. A meta dos templários seria adquirir relíquias mágicas para
poder controlar o mundo.
Referências
Bibliográficas:
DEMURGER,
Alain. Os Cavaleiros de Cristo: templários, teutônicos, hospitalários e outras
ordens militares na Idade Média (sécs. XI-XVI). Rio de Janeiro, Jorge Zahar
Editor, 2002.
DEMURGER,
Alain. Os Templários – uma cavalaria cristã na Idade Média. São Paulo, Difel,
2007.
Por Ximenes
Fonte: MS Maçom
Por Ximenes
Fonte: MS Maçom
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