Antecedentes
Segundo
Ferreira e Pinto (2006), nos anos vinte a sociedade brasileira viveu um período
de grande efervescência e profundas transformações. Mergulhado numa crise cujos
sintomas se manifestaram nos mais variados planos o país experimentou uma fase
de transição cujas rupturas mais drásticas se concretizariam a partir do
movimento de 1930. O ano de 1922, em especial, aglutinou uma sucessão de
eventos que mudaram de forma significativa o panorama político e cultural brasileiro.
A semana de Arte Moderna, a criação do Partido Comunista, o movimento
tenentista, a criação do Centro Dom Vital, a comemoração do centenário da
Independência e a própria sucessão presidencial de 1922 foram indicadores
importantes dos novos ventos que sopravam, colocando em questão os padrões
culturais e políticos da Primeira República.
Do ponto de vista econômico, a
década de vinte foi marcada por altos e baixos. Se nos primeiros anos o
declínio dos preços internacionais do café gerou efeitos graves sobre o
conjunto da economia brasileira, como a alta da inflação e uma crise fiscal sem
precedentes, por outro também se verificou uma significativa expansão do setor
cafeeiro e das atividades a ele vinculadas. Passados os primeiros momentos de
dificuldades, o país conheceu um processo de crescimento expressivo que se
manteve até a Grande Depressão em 1929. A diversificação da agricultura, um
maior desenvolvimento das atividades industriais, a expansão de empresas já
existentes e o surgimento de novos estabelecimentos ligados a indústria de base
foram importantes sinais do processo de complexificação pelo qual passava a
economia brasileira.
Junto
com estas mudanças observadas no quadro econômico processava-se a ampliação dos
setores urbanos com o crescimento das camadas médias, da classe trabalhadora e
a diversificação de interesses no interior das próprias elites econômicas. Em
seu conjunto estas transformações funcionariam como elementos de estímulo a
alterações no quadro político vigente colocando em questionamento as bases do
sistema oligárquico da Primeira República.
Conforme
Dialético (2012) durante quarenta anos, o poder republicano no Brasil foi
sustentado por um amplo pacto entre as oligarquias agrárias. O acordo se
apoiava no poder local dos coronéis, que, como vimos, exerciam o mando político
recorrendo a práticas viciadas e arcaicas, como o clientelismo, a compra de
votos, a troca de favores e a fraude eleitoral. Enquanto as elites acreditavam
que essa situação não se alteraria, a sociedade brasileira estava em plena
ebulição, passando por constantes mudanças. Nas cidades, por exemplo, entre a
população era crescente a rejeição às práticas políticas das oligarquias. A
contestação popular ao poder dos coronéis se manifestou sobretudo na luta dos trabalhadores
por melhores condições de vida e de trabalho e nas ações militares dos
tenentes, que expressavam a indignação dos grupos sociais urbanos contra o
domínio das oligarquias. Em 1930, a insatisfação criou as condições para um
movimento revolucionário que mudaria esse quadro.
O
crescimento urbano verificado entre a última década do século XIX e as três
primeiras do século XX, aliado ao relativo desenvolvimento industrial, colocou
em cena dois personagens que nada tinham a ver com os interesses e as práticas
políticas das elites agrárias: o proletariado e a classe média. O crescimento
da classe média compos-ta por profissionais liberais, pequenos empresários,
funcionários públicos, militares e empregados do setor de serviços em geral —
acompanhou o desenvolvimento urbano-industrial. Nas primeiras décadas da
República, esse grupo era mais numeroso no Rio de Janeiro, que, como capital do
país, concentrava grande número de funcionários públicos, civis e militares.
Assim
como o operariado e outros grupos populares, a classe média sofria com a
inflação e a falta de moradia. Por essa razão, às vezes alguns setores dela se
uniam aos movimentos de protesto, como aconteceu na Revolta da Vacina, em 1904.
Insatisfeita com as práticas eleitorais das oligarquias, a classe média tendia
a votar nos candidatos da oposição. Foi o que aconteceu nas eleições de 1910,
1922 e 1930, as únicas dessa época em que houve realmente alguma chance de
vitória de candidatos oposicionistas. Mas o sistema político montado pelas
oligarquias, baseado no "voto de cabresto", acabou prevalecendo e
frustrou as expectativas da maioria da população urbana.
Em
1910, os partidos republicanos de São Paulo e de Minas se dividiram. O grupo
paulista apoiou a candidatura de Rui Barbosa, que promoveu a Campanha
Civilista, contra o candidato dos partidos republicanos de Minas Gerais e do
Rio Grande do Sul, marechal Hermes da Fonseca. Nessas eleições, alguns setores
da classe média ficaram do lado de Rui Barbosa, por ver nele uma promessa de
democratização da sociedade. Outros, porém, apoiaram o marechal, pois os
militares eram contrários a certas práticas oligárquicas e Rui Barbosa, afinal,
estava comprometido com elas. O marechal venceu as eleições e adotou medidas
contra setores das oligarquias, por meio da política de "salvações
nacionais".
Em
1922, Minas e São Paulo se uniram em torno da candidatura de Artur Bernardes,
inimigo dos militares. No lado oposto, a candidatura de Nilo Peçanha era
apoiada pelo Rio Grande do Sul e por oficiais do Exército, na chamada Reação
Republicana. Nilo Peçanha contou com o voto da classe média, mas perdeu a
eleição para Artur Bernardes, que governaria sob estado de sítio durante a
maior parte de seu mandato, entre 1922 e 1926.
O
desenvolvimento urbano-industrial aumentou o número de operários e deu peso
social e político à classe trabalhadora. Esse crescimento estimulou os
operários a se organizar em sindicatos e outras associações de classe para
lutar por melhores condições de vida e de trabalho. Assim, surgiu no Rio de
Janeiro a Confederação Operária do Brasil (COB), formada em 1908 sob a
liderança dos anarcos-sindicalistas.
Na
época, não existia no Brasil nenhuma legislação trabalhista. Assim, os
trabalhadores não tinham direitos, como férias, aposentadoria e descanso
semanal remunerado. Insatisfeitos com a situação em que se encontravam, os
trabalhadores urbanos passaram a realizar greves e manifestações de rua. Uma de
suas principais reivindicações nessas lutas era a jornada de trabalho de 8
horas. Essas ações coletivas assustavam os patrões e as elites dominantes,
acostumadas à obediência cega de seus cor religionários nos redutos eleitorais.
Para intimidar as lideranças operárias, os patrões faziam circular listas, nas
quais denunciavam os trabalhadores mais combativos, com o objetivo de impedir
que eles conseguissem emprego em outras empresas.
Anarquistas
e socialistas
Entre
1900 e 1930, diversas tendências de esquerda atuaram entre os operários do
Brasil, destacando-se o anarquismo e o socialismo. Os anarquistas queriam
suprimir o Estado e a propriedade privada, enquanto os socialistas lutavam pela
transformação da sociedade por meio de reformas pacíficas. Uma das varian-tes
do anarquismo era o anarco-sindicalismo, cujos integrantes viam os sindicatos
como o principal ins-trumento de luta contra o Estado burguês e a sociedade
capitalista. Os anarcos-sindicalistas lideraram por muito tempo o movimento
operário de São Paulo e de outras cida-des. A partir de 1920, contudo, começaram
a perder força. Em 1922, surgiu o Partido Comunista do Brasil, que passou a
atuar também entre os trabalhadores.
O
"ano vermelho"
A
ação operária tornou-se mais intensa entre 1917 e 1920, quando uma onda de
greves invadiu as grandes cidades do país, como São Paulo e Rio de Janeiro. As
lutas começaram como reação à alta do custo de vida e à queda do poder
aquisitivo dos salários. Em julho de 1917, uma greve geral, acompanhada de
gigantescas manifestações de rua, paralisou São Paulo. No bairro do Brás, onde
se concentrava a maior parte dos trabalhadores imigrantes, houve violentos
tiroteios entre os grevistas e a polícia. Os trabalhadores reivindicavam
aumento salarial, proibição do tra-balho de menores de catorze anos, jornada de
oito horas, pagamento de horas extras com acréscimo de 50%, fim do trabalho aos
sábados à tarde, garantia de emprego, respeito ao direito de associação,
medi-das contra a carestia, redução no preço dos aluguéis. A paralisação
operária em São Paulo terminou alguns dias depois com a vitória parcial dos
grevistas. Mas novas greves voltariam a eclodir nos anos seguintes na capital
paulista e em outras cidades do país.
Rebeliões tenentistas
Os
militares participaram da política brasileira desde a proclamação da República.
Num primeiro momento, a atuação partiu dos altos escalões, comandada pelos
marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto e por oficiais positivistas. Na
década de 1920, contudo, houve uma inversão na forma de atuar dos militares,
com o surgimento do tenentismo. Movimento de jovens oficiais das Forças
Armadas, o tenentismo propunha a morali-zação da vida pública, a adoção do voto
secreto e a implementação de medidas em defesa dos interesses econômicos
nacionais. Seu lema era "representação e justiça". Em certo sentido,
o movimento expressava o mal-estar da classe média e da população urbana,
provocado pelo contraste entre a modernização da sociedade e sua submissão ao
setor mais atrasado do país: as oligarquias agrárias. Apesar do nome, nem todos
os integrantes do tenentismo eram tenentes; também participavam do movimento
militares de patentes mais elevadas, como generais, por exemplo, e civis. Por
força de sua formação militar, os tenentes não acreditavam na possibilidade de
mudanças por via eleitoral; por isso, decidiram partir para rebeliões armadas.
As ações mais importantes do movimento foram:
Os Dezoito do Forte (1922)
Em
5 de julho de 1922, jovens oficiais e soldados do Exército rebelaram-se no
forte de Copacabana, Rio de Janeiro, contra o governo federal. Sua principal
exigência era a renúncia do candidato recém-eleito à Presidência da República e
ainda não empossado, Artur Bernardes. Cercados por tropas governistas, dezoito
deles saíram do forte na manhã do dia 6, percorrendo de armas na mão a avenida
Atlântica em direção ao palácio do governo. No caminho, um civil juntou-se ao
grupo. A maioria dos rebeldes morreu nos tiroteios que se seguiram. Apenas dois
sobreviveram: os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Dois anos depois do
episódio dos Dezoito do Forte, exatamente no dia 5 de julho de 1924, unidades
do Exército e da Força Pública (Polícia Militar) se rebelaram em São Paulo. Os
rebeldes ocuparam o palácio do governo, provocando a fuga do governador, e
controlaram a cidade durante 23 dias. Eles exigiam a renúncia do presidente
Artur Bernardes e contavam com o apoio dos trabalhadores e de alguns grupos de
populares. Para evitar o bombardeio da cidade por forças legalistas, os
rebeldes se deslocaram para Foz do Iguaçu, Paraná, onde se encontrariam mais tarde
com oficiais rebeldes vindos do Rio Grande do Sul.
Rebelião no Rio Grande do Sul
Em
outubro de 1924, eclodiu nova revolta, agora no extremo sul do país, envolvendo
unidades do Exército aquarteladas nas cidades gaúchas de São Borja, Uruguaiana
e Santo Ângelo. Seus líderes eram o capitão Luís Carlos Prestes e o tenente
Siqueira Campos. Depois de alguns dias de combate, os rebeldes se retiraram
para Foz do Iguaçu.
Coluna Prestes
Do
encontro dos revoltosos gaúchos e paulistas em Foz do Iguaçu surgiu a Coluna
Prestes, da qual participaram cerca de 1600 homens comandados por Luís Carlos
Prestes e Miguel Costa. A Coluna, acatando uma proposta de Prestes,
embrenhou-se pelo interior do Brasil e lançou uma guerra de movimento contra as
forças do governo. Entre 1925 e 1927, atravessou o país, combatendo e fugindo
sempre, sem nunca ser derrotada. Por isso, ficaria conhecida como Coluna
Invicta, enquanto Prestes receberia o título honroso e romântico de Cavaleiro
da Esperança. Em 1927, depois de percorrer 24 000 km pelos sertões do Brasil, a
Coluna Invicta ingressou na Bolívia, onde acabou se dispersando.
A Revolução de 1930
Em
1929, o Presidente e Maçom Washington Luís, do Partido Republicano Paulista
(PRP), que sucedera o Maçom Artur Bernardes (mineiro), lançou a candidatura de
Júlio Prestes para sua sucessão. Prestes, que não tinha nenhuma relação de
parentesco com o Cavaleiro da Esperança, era governador de São Paulo. Sua
candidatura rompia o acordo com o Partido Republicano Mineiro (PRM), segundo o
qual, depois de um paulista na Presidência da República, um mineiro deveria
assumir o cargo, mantendo a política do "café-com-leite".
A
reação dos mineiros foi aliar-se ao Rio Grande do Sul e à Paraíba, formando a
Aliança Liberal, que lançou o nome do governador gaúcho Getúlio Vargas. Assim,
mais uma vez, a grande frente oligárquica se dividia. O próprio PRP tinha
sofrido uma divisão em 1926, quando alguns de seus integrantes romperam com a
orientação partidária e criaram o Partido Democrático, com boa penetração nas
classes médias do estado. Era esse o quadro político no Brasil, quando o mundo
foi atingido pela crise econômica desencadeada pelo crack da Bolsa de Valores
de Nova York em 1929. Com a Grande Depressão, os preços do café despencaram no
mercado internacional. Pressionado pelos cafeicultores, Washington Luís se
negou a tomar medidas para salvar as cotações do produto, levando boa parte dos
fazendeiros a deixar de apoiá-lo.
O
programa da Aliança Liberal era inovador. Prometia atender às reivindicações
operárias, anistiar os tenentes condenados por suas rebeliões e moralizar a
vida pública, adotando o voto secreto. Com essas propostas, Getúlio Vargas
atraiu a simpatia das classes trabalhadoras e o apoio dos tenentes e do Partido
Democrático de São Paulo. Mesmo assim, perdeu para Júlio Prestes nas eleições
de março de 1930. Em julho, um fato novo mudou completamente o rumo dos
acontecimentos. Por motivos particulares, o candidato a vice-presidente na
chapa de Getúlio, João Pessoa, ex-governador da Paraíba, foi assassinado no
Recife. Antes do episódio, o setor mais radical da Aliança Liberal, formado
pelos tenentes, já queria pegar em armas para chegar ao poder, caso Getúlio
fosse derrotado. Depois das eleições, essa ideia foi deixada de lado
temporariamente, mas o assassinato de João Pessoa reacendeu os ânimos. Nesse
momento, Getúlio Vargas, que relutava em liderar um movimento armado, aceitou
chefiar a revolução, apoiado pelos tenentes, que, como vimos, tinham
experiência nesse tipo de ação. O único que ficou de fora foi Luís Carlos
Prestes, que havia aderido ao marxismo.
Na
tarde de 3 de outubro de 1930, a revolução eclodiu simultaneamente no Rio
Grande do Sul e em Minas Gerais, sob o comando militar do coronel Góis
Monteiro. Na madrugada do dia seguinte, irrompeu também na Paraíba, onde as
forças revolucionárias seguiam a liderança de Juarez Távora. A seguir, a
revolução chegou a Pernambuco e a outros estados, espalhando-se rapidamente por
todo o país. Vinte dias depois do início da luta armada, em 24 de outubro, o
alto-comando militar do Rio de Janeiro depôs o presidente Washington Luís e
entregou o poder aos líderes revolucionários. No dia 3 de novembro, Getúlio
Vargas anunciou a formação de um governo provisório e prometeu uma nova era
para o Brasil.
Luís Carlos Prestes rompe com os tenentes
No
começo de 1930, Luís Carlos Prestes, exilado na Argentina, foi convidado por outros
tenentes a apoiar a candidatura de Getúlio Vargas. Prestes rejeitou o convite.
A essa altura, ele já tinha entrado em contato com o pensamento marxista,
ideologia que iria defender ferrenhamente. Em maio do mesmo ano, Prestes
anunciou sua adesão ao comunismo por meio de um manifesto, no qual revelava
também seu afastamento do grupo majoritário dos tenentes:
“Mais
uma vez os verdadeiros interesses populares foram sacrificados, e vilmente
mistificados todo o povo, por uma campanha eleitoral que, no fundo, não era
mais que a luta entre os interesses contrários de duas correntes oligárquicas,
apoiadas e estimuladas pelos dois grandes imperialismos que nos escravizam. São
idênticos os propósitos reacionários das oligarquias em luta. A revolução
brasileira não pode ser realizada com o programa medíocre da Aliança Liberal.
Vivemos sob o jugo dos banqueiros de Londres e Nova York. A verdadeira luta
pela independência nacional só poderá ser levada a efeito pela verdadeira
insurreição nacional de todos os trabalhadores. Proclamemos, portanto, a
revolução agrária e anti-imperialista, realizada e sustentada pelas grandes
massas de nossa população. Lutemos pelo confisco, nacionalização e divisão das
terras, pelo confisco e nacionalização das empresas estrangeiras, pela anulação
das dívidas externas.“
O Major Maçom Plínio Tourinho e a Revolução de 1930
O
episódio descrito a seguir foi retirado do trabalho do Prof. Ms. Roberto
Bondarik (2012). Liderado pelo secretario do governo do Rio Grande do Sul,
Oswaldo Aranha, a partir de maio de 1930 organiza-se um movimento conspiratório
visando impedir a posse de Júlio Prestes e o afastamento de Washington Luiz do
governo do país. Lideres tenentistas das rebeliões militares durante a década
de 1920 foram contatados e muitos deles aceitaram aderir e mesmo a auxiliar no
planejamento e condução do movimento. Foi este o caso, dentro do Estado do
Paraná, do Major e Maçom Plínio Tourinho, oficial de Artilharia do Exercito,
servindo em Curitiba e simpatizante do tenentismo. A data para o inicio do
movimento foi estabelecida para o dia 03 de outubro de 1930, uma sexta feira.
Movimentos sincronizados seriam levados a efeito em todo o Rio Grande do Sul,
Paraná, Minas Gerais e Paraíba. As 17h30m deste dia forças da Brigada Militar
Gaucha5, Guarda Civil, rebeldes do Exercito e voluntários civis comandados por
Oswaldo Aranha e Góes Monteiro, tomam de assalto o edifício do Quartel General
do Exercito em Porto Alegre. O comandante da Região Militar, General Gil de
Almeida foi preso durante essa ação. Imediatamente deflagra-se por todo o
estado a ação dos rebeldes que tomam, com poucas exceções, os quartéis e
guarnições do Exercito. Iniciava-se de maneira prática o movimento que alçaria
Getúlio Dorneles Vargas à Presidência da República.
O Maçom Washington Luís e a Revolução de 1930
Washington
Luís Pereira de Sousa (Macaé, 26 de outubro de 1869 — São Paulo, 4 de agosto de
1957) foi um advogado, historiador e político brasileiro, décimo primeiro
presidente do estado de São Paulo, décimo terceiro presidente do Brasil e
último presidente da República Velha. Foi deposto em 24 de outubro de 1930,
vinte e um dias antes do término do seu mandato como presidente da república,
por um golpe militar, que passou o poder, em 3 de novembro, às forças político-militares
comandadas por Getúlio Vargas, na denominada Revolução de 1930. Foi o criador
do primeiro serviço de Inteligência do Brasil em 1928. O apelido que o definia
era Paulista de Macaé, pois, embora nascido no estado do Rio de Janeiro, sua
biografia política foi toda construída no estado de São Paulo. Foi chamado
também de O estradeiro, e, durante a Revolução de 1930, de Doutor Barbado pelos
seus opositores. Washington Luís, ilustre Ir.´. que iniciou sua carreira
política em Batatais, SP, como vereador, e veio a ser Presidente da República
do Brasil de 1926 à 1930. Washington Luís Pereira de Souza fora Venerável
Mestre da Loja Philantropia II, do Or.´. de Batatais, em 1896.
O Partido Republicano Paulista a Maçonaria e a
Revolução de 1930
Partido
Republicano Paulista (PRP) foi um partido político brasileiro fundado em 18 de
abril de 1873, durante a Convenção de Itu4, que foi o primeiro movimento
republicano moderno no Brasil. Seus adeptos eram chamados de perrepistas. O PRP
foi o partido político predominante no estado de São Paulo durante toda a
República Velha.
O
PRP foi influenciado muito pelos ideais da Maçonaria e pelo Positivismo, tendo
tido, o PRP, verdadeira obsessão pela imigração européia. Em nível municipal
havia disputas políticas, quando mais de um coronel disputava o poder local.
Nestes casos, políticos da capital então se dividiam, apoiando um ou outro
coronel para os cargos municipais. Nas pequenas cidades do interior de São
Paulo, o líder local do PRP era o tipo do Coronel, em geral o líder da Loja
Maçônica local. Às vezes, dois ou mais coronéis disputavam o controle de PRP
local. Os grupos políticos locais recebiam apelidos como os Araras contra os
Pica-Paus. Mas sempre havia candidato único à presidência do estado. Os
coronéis apoiavam a política dos presidentes dos estados em troca destes
respeitarem o poder local do coronel. Houve 4 dissidências dentro do PRP,
comandadas por políticos descontentes com a cúpula do PRP e que foram
preteridos na escolha dos candidatos do PRP à presidência do Estado ou outros
cargos importantes. A última dissidência resultou na criação do Partido
Democrático em fevereiro de 1926, partido este que apoiou a Revolução de 1930.
Essa última dissidência do PRP originou-se em crise ocorrida na Maçonaria
Paulista, tendo o grão-mestre do Grande Oriente de São Paulo, doutor José
Adriano Marrey Júnior6, fundado o Partido Democrático. A primeira
grande
disputa eleitoral entre estes PRP e Partido Democrático se deu, em 1928, pela
prefeitura da cidade de São Paulo através do voto direto, quando o PRP saiu
largamente vitorioso, reelegendo o prefeito Dr. José Pires do Rio.
O
ataque mais sério ao poder de PRP foi a Revolta Paulista de 1924, que fez que o
presidente Carlos de Campos se retirasse para o interior do estado, e
organizasse batalhões em defesa da legalidade, conseguindo retomar o poder.
Muitos membros importantes do PRP vestiram fardas da Força Pública de São
Paulo, atual Polícia Militar do Estado de São Paulo, organizaram e comandaram a
resistência contra os revoltosos.
O
PRP elegeu todos os presidentes do Estado de São Paulo na República Velha e
elegeu 6 presidentes da República, embora dois deles não tomaram posse: o Maçom
Rodrigues Alves quando reeleito em 1918 não chegou a tomar posse por ter
falecido e Júlio Prestes por causa da Revolução de 1930. O Dr. Washington Luís
foi deposto em 1930. O Maçom Washington Luís foi um modernizador do PRP,
instalando uma administração técnica, tanto na Secretaria de Justiça e
Segurança Pública, (na chamada Polícia sem política), quanto na Prefeitura de
São Paulo e no governo do estado. O PRP foi derrotado nas eleições
presidenciais de 1910 quando o presidente de São Paulo Albuquerque Lins foi
candidato a vice-presidente na chapa do Maçom Rui Barbosa na chamada Campanha
Civilista. Os próceres políticos do PRP adquiram fama de bons administradores e
homens probos, sendo que vários foram considerados estadistas. Em geral, o PRP,
na República Velha, era comandado pelo presidente do estado do momento. Os
líderes que mais por tempo tiveram força na diretoria executiva do PRP foram o
Maçom e Presidente Jorge Tibiriçá Piratininga, falecido em 1928, o Coronel Fernando
Prestes de Albuquerque e o Dr. Altino Arantes Marques, ambos falecidos após o
término da República Velha. Em 1 de março de 1930, o candidato a presidente da
República Júlio Prestes do PRP teve 90% dos votos válidos no Estado de São
Paulo. Foi outra grande vitória que o PRP obteve contra o Partido Democrático
que apoiara o candidato de oposição Getúlio Vargas. Júlio Prestes, porém, não
tomou posse, atropelado que foi, pela Revolução de 1930. Com a revolução de
1930, vários próceres políticos do PRP, inclusive o presidente eleito Júlio
Prestes, que se licenciara do governo de São Paulo e o presidente da república
Washington Luís foram exilados. O vice-presidente de São Paulo, em exercício do
cargo de presidente do estado, Doutor Heitor Penteado, foi deposto em 24 de
outubro de 1930, preso e exilado. O PRP não mais voltaria a governar São Paulo.
Com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder romperam com
este ciclo, todos os partidos foram extintos, só voltando a existir nas
eleições de 1933. Também foi extinto o domínio da política do café-com-leite
(representada pelo PRP e pelo PRM).
A
partir de 1930, salvo poucas exceções, gaúchos e mineiros se revezariam na
presidência da república, até a década de 1980. Nos 50 anos seguintes a 1930,
gaúchos e mineiros estariam no poder federal por 41 anos. Júlio Prestes foi o
último paulista eleito presidente da república.
Entretanto,
no ponto de vista do líder perrepista, Júlio Prestes, eleito presidente em
1930, a ditadura implantada em 1930, desonrava o Brasil:
"O
que não se compreende é que uma nação, como o Brasil, após mais de um século de
vida constitucional e liberalismo, retrogradasse para uma ditadura sem freios e
sem limites como essa que nos degrada e enxovalha perante o mundo
civilizado!" — Júlio Prestes
O
PRP foi definitivamente extinto, logo após a instalação do Estado Novo, pelo
decreto-lei nº 37, de 2 de dezembro de 1937.
Principais
Maçons Republicanos: Américo Brasiliense; Américo de Campos; Aristides Lobo;
Benjamin Constant; Bernardino de Campos; Campos Sales. Deodoro da Fonseca;
Eduardo Wandenkolk; Francisco Glicério; Hermes da Fonseca; João Tibiriçá
Piratininga; Jorge Tibiriçá; José Maria Lisboa; Júlio Mesquita; Lauro Sodré;
Luis Gama; Manoel de Moraes Barros; Martinico Prado; Nilo Peçanha; Pedro de
Toledo; Pinheiro Machado; Prudente de Moraes; Quintino Bocaiúva; Rangel
Pestana; Rui Barbosa; Saldanha Marinho; Silva Jardim; Ubaldino do Amaral.
Por
Roberto Aguilar M. S. Silva, M.M.
A.'.R.'.L.'.S.'.
Sentinela da Fronteira, n°53, Corumbá, MS (Academia Maçônica de Letras de Mato
Grosso do Sul) – Brasil
FONTE:MAÇONARIA.NET
3 Comentários
Que Peça linda. Parabéns ao Ir.'. que a desenhou/entalhou. Lhe agradeço por compartilhar este estudo e conhecimento.
ResponderExcluirIr.'. André F.
G.'.L.'.R.'.R.'.S.'.
Or.. Chapecó
Parabéns pelo trabalho de cultura maçônica ao Ir.'. Roberto Aguiar M. S. Silva e ao Ir.'. Luiz Sergio Castro pela brilhante coluna deste grande Jornal O Malhete que muito contribui para o conhecimento dos IIr.'.
ResponderExcluirJosé Astrogildo Boechat - MM.'.
Ex-Venerável
Lj.'. Obreiros do Trabalho 1.143
Or.'. de Conselheiro Pena - MG
Excelente e iluminado trabalho, me faz repensar a ocasião de muitos IIr.'. Ainda serem muito intoxicados sob vínculos partidários. Creio que a única forma de mudar este país é a maçonaria levantar pela maçonaria contra as atrocidades corruptas da politica quarentona nacional. Talvez isso seja uma ficção, infelizmente. T.'.F.'.A.'. Ir.'. Astrogildo. Ótimo 2016. Parabéns pela obra sintética e valiosa.
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