Por José Maurício Guimarães
"Vamos
mudar de assunto? Que tal falarmos um pouco de História? Acho importante no
momento atual. Farei três singelos posts, para reflexão."
E
o "Batman" Barbosa (1) começou recordando a Revolução Francesa
e a queda de regimes absolutistas:
"1)
quem diria em maio de 1789 que aquele convescote (2) estranho
realizado em Versalhes iria desembocar na terrível revolução francesa?
"2) em 15/11/1889, nem mesmo o general Deodoro
da Fonseca tinha em mente derrubar o regime imperial sob o qual o Brasil vivia.
Aconteceu.
"3) nem o mais radical bolchevique imaginaria
lá pelos idos de 1914 que a primeira guerra mundial facilitaria a queda do
regime czarista da Rússia.
"Por que fiz esses 3 posts sobre História?
Porque no Brasil pouca gente pensa nas 'voltas' e nas 'peças' que a História dá
e aplica."
Fico
tranquilo quando um homem da estatura de Joaquim Barbosa vem nos convidar a
refletir sobre a História. Só espero que a ilustre plêiade de donos da verdade
não torça o nariz para o Ex-Ministro. Nem usem o obtuso argumento de as pessoas
não gostam de ler, ou que História é para museu. Guardem seus rancores apenas
para mim, que sou um modesto escriba não remunerado e sem rabo-preso.
Nosso
país e nossas instituições precisam voltar o olhar crítico para o passado
recente, a fim de que não caiamos duas, três ou quatro vezes no mesmo buraco.
Tanto a República quanto a Ordem Maçônica (pois esta é uma amostragem daquela)
andaram juntas durante mais de 120 anos, sofrendo ambas (e entre si) dissensões
e rupturas dramáticas, apesar das relevantes conquistas (juntas e/ou separadas)
no campo político e social. No últimos doze anos, entretanto, os limites entre
a boa política e a Maçonaria tornaram-se difusos apesar das toneladas de
fotografias que desperdiçamos.
Permitam-me,
apesar de tudo, exercer a audácia de comentar as palavras do eminente jurista
Joaquim Barbosa, dito o "Batman".
A
queda do regime czarista na Rússia (lá pelos idos de 1914), apesar de
ter desembocado no brutal stalinismo, teve a virtude de derrubar a monarquia da
família Romanov. As Monarquias podem ser lindas nas fotografias e eventos
coloridos, nas carruagens escoltadas por vassalos e poses fictícias, mas o
poder permanece restrito a um grupo ungido pelos deuses: entre os pais e os
filhos, sobrinhos, irmãos, tios, cunhadas, afilhados, o papagaio, o gato e a
matilha de cachorros do palácio. É a maldição da ordem sucessória, irracional e
antidemocrático.
O
stalinismo foi pior ‒ é verdade, pois instituiu a ditadura burocrática do
partido único onde funcionários analfabetos cortavam as cabeças dos que
pensavam com a própria cabeça ‒ reescreviam a história e a verdade, perseguiam
as religiões e sociedades iniciáticas, promoviam a militarização da sociedade
com intensa propaganda estatal e o culto à personalidade dos líderes,
eliminando quaisquer formas de oposição. Os meios de produção agrícola e
industrial foram obrigatoriamente coletivização e os processos de tomada de
decisão centralizados; foram censurados os meios de comunicação e expressão,
etc.
Os
que conhecem alguma coisa parecida, por favor, permaneçam como estão.......
Aprovado!
Joaquim
Barbosa lembra-nos a história de nosso Irmão, o general maçom e "poderoso"
Deodoro da Fonseca, que talvez nem pensasse em derrubar o regime imperial...
mas aconteceu. A "república maçônica", no entanto, não cheirava bem
para os maçons que insistiam em prosseguir pensando com a própria cabeça: poucos
sabem, por exemplo, que os maçons José do Patrocínio (jornalista e
abolicionista) e Carlos Gomes (compositor) foram vítimas da retaliação
maçônico-republicana. José do Patrocínio, logo após a abolição, manifestou
gratidão à Princesa Isabel e ficou "marcado" pelo marechal (também
maçom) Floriano Peixoto, que o deportou para Cucuí, no alto Rio Negro. Para o
longínquo norte também foi "enviado" o genial Carlos Gomes, que
recusou compor um hino para a República. Teve suspensa sua nomeação para o
cargo de Diretor do Conservatório de Música do Rio de Janeiro, sendo despedido
para o Pará sob o governo e vigilância de Lauro Sodré, também maçom (3).
Joaquim
Barbosa cita ainda o estranho convescote realizado em Versalhes que desembocou
na Revolução Francesa, tornada terrível ‒ digo eu ‒ mesmo sendo obra de Irmãos
maçons: Georges Jacques Danton, procurador da Comuna, Ministro da Justiça e
deputado, foi iniciado na mesma Loja que Voltaire - Les Neuf Soeurs de
Paris. Jean Paul Marat, médico e jacobino extremista, conheceu a Ordem na
Inglaterra e alcançou o Grau de Mestre em 1774 na Loja King Head.
Maximilien Robespierre frequentava os meios acadêmicos na qualidade de membro
da Loja Hesdin do Pas-de-Calais em Arras. E o jornalista e
advogado Camille Desmoulins tornou-se maçom em 1776 na Loja Des Maîtres de
Amiens.
E
guilhotinaram-se mutuamente.
Os
que conhecem alguma coisa parecida, por favor, permaneçam como estão.......
Aprovado!
E
viva a república! E viva a democracia!
-
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
(1)
O Ministro ficou conhecido pelo apelido de Batman, nas redes
sociais, em 2012, devido à sede dos brasileiros por justiça e ao fantasma das pizzas.
A imprensa reforçou a ideia do super-herói no artigo "A disparada de
Joaquim Barbosa, o Batman brasileiro", http://exame.abril.com.br/ 03/10/2012.
(2)
Convescote quer dizer piquenique; Joaquim Barbosa usa de evidente
ironia para com as assembleias cujo objetivo é difuso e confuso, estando os
participantes de olho apenas no turismo e na comilança e bebidas que serão
desfrutadas "com moderação" e "socialmente".
(3)
Os episódios em questão estão descritos no meu livro "Grande Loja Maçônica
De Minas Gerais-História, Fundamentos e Formação", nas páginas 94 e seguintes.
-
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
0 Comentários