Por Luiz Sérgio Castro
Era novembro de 1979, e o país parecia respirar um ar novo — tímido, ainda cheio de poeira do passado, mas novo. Nos aeroportos, nos portos, nas estações, uma cena se repetia como um milagre tardio: abraços que haviam envelhecido na memória.
Vinham chegando aos poucos. Alguns com malas pequenas, outros com a alma cheia de lembranças e o coração apertado pelo medo de ainda não caber no Brasil que deixaram. Eram professores, artistas, políticos, jornalistas, estudantes — brasileiros que haviam aprendido a viver com saudade e esperança ao mesmo tempo.
A Lei da Anistia, assinada por João Batista Figueiredo, parecia uma porta se abrindo depois de um longo inverno. Foram 15 mil exilados e quase 800 parlamentares cassados ao longo de anos em que o silêncio falava mais alto que as palavras. Agora, esses mesmos nomes voltavam a ecoar, trazendo de volta histórias, canções, e o desejo de reconstruir o país com o que restava de sonho.
Muitos encontraram um Brasil diferente. Os amigos envelheceram, as praças mudaram de nome, os filhos já falavam outra língua. Mas havia algo que permanecia: o amor pela terra e a crença de que a liberdade, ainda que tardia, é sempre uma vitória.
A volta dos brasileiros não foi apenas o retorno de corpos — foi o reencontro de uma nação consigo mesma. Porque, no fundo, cada um que regressava trazia um pedaço do Brasil que o exílio não conseguiu apagar.
E naquela manhã de novembro, quando os aviões pousavam sob o sol de primavera, o país inteiro parecia acordar — como quem, depois de um longo pesadelo, se lembra enfim de como é sonhar.

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