Da Redação
O dia 16 de abril marca importantes acontecimentos na história da Maçonaria, revelando aspectos de sua evolução social, sua relação com as mulheres e os embates históricos com instituições religiosas. Três fatos relevantes, ocorridos em diferentes séculos, ajudam a compreender melhor os desafios e avanços da Ordem Maçônica ao longo do tempo.
1683 – As Viúvas dos Maçons e a Questão Feminina na Maçonaria Operativa
Em 16 de abril de 1683, um memorando da Loja de Edimburgo, Escócia, abordou o curioso e significativo tema do papel das viúvas de maçons na tradição operativa. O documento reconhecia que a viúva de um Mestre Maçom poderia, com o auxílio de um maçom competente, receber certos benefícios oriundos da clientela do falecido marido. No entanto, ela era formalmente proibida de lucrar diretamente com tais encargos. No dia seguinte, registros da Loja da Capela de Santa Maria relataram uma situação sobre a legalidade da atuação de uma mulher na condição de “Dama” ou “Senhorita” maçônica, ainda que em caráter restrito.
Já os manuscritos da Grande Loja de York, datados de 1693, ampliam essa reflexão: neles consta que durante a iniciação, “he or shee” (ele ou ela) deveria colocar as mãos sobre o Livro, antes de receber os encargos. Ainda que alguns estudiosos interpretem esse “shee” como um erro de tradução, outros, como o reverendo A.F.A. Woodford, o consideram um indício da possível participação feminina em determinadas corporações maçônicas operativas, onde mulheres já atuavam ao lado dos homens.
1752 – Primeiro Registro de um Maçom do Real Arco
No ano de 1752, também em 16 de abril, é feito o primeiro registro formal de um Maçom do Real Arco: Samson Moore, proposto para a Loja nº 123, localizada em Coleraine, na Irlanda. Este acontecimento é relevante por marcar a consolidação de graus adicionais dentro da estrutura maçônica, sinalizando o desenvolvimento de uma Maçonaria mais complexa e esotérica, além dos graus simbólicos tradicionais. O Real Arco se tornaria, com o tempo, um importante grau complementar para os Mestres Maçons, especialmente nas tradições da Maçonaria anglo-saxônica.
1872 – Conflito entre a Maçonaria e a Igreja Católica no Brasil
No Brasil Império, em pleno século XIX, a relação entre Maçonaria e Igreja Católica atingiu um ponto crítico. No ano de 1872, o Visconde de Rio Branco, então Primeiro-Ministro e também Grão-Mestre da Maçonaria brasileira, liderava um governo profundamente influenciado por ideais maçônicos. Nessa época, muitos padres estavam ligados à Maçonaria, e confrarias católicas eram controladas por irmãos da Ordem, que inclusive detinham as chaves das igrejas e dos sacrários.
Durante as comemorações da Lei do Ventre Livre, em 2 de março de 1872, a Maçonaria organizou uma grande celebração, na qual o Padre Almeida Martins proferiu um discurso com forte tom maçônico, gerando polêmica nacional. Como consequência, o Bispo do Rio de Janeiro, Dom Pedro Maria de Lacerda, puniu o sacerdote com a suspensão de suas funções eclesiásticas.
Em resposta, as Lojas Maçônicas realizaram, no dia 16 de abril de 1872, uma Assembleia Geral para deliberar sobre os rumos do conflito com a Igreja. A reunião foi liderada pelo próprio chefe do governo, que propôs três ações estratégicas:
- Iniciar uma campanha na imprensa contra os bispos e a Igreja.
- Convidar os maçons dissidentes à união.
- Organizar um fundo para custear a luta institucional.
Esse episódio exemplifica a tensão entre as duas potências ideológicas da época: o Estado laico influenciado pela Maçonaria e a estrutura religiosa dogmática da Igreja Católica.
Conclusão
As efemérides maçônicas do dia 16 de abril revelam facetas marcantes da história da Maçonaria: sua tentativa inicial (ainda que tímida) de incluir as mulheres no contexto operativo, o surgimento de graus mais elevados como o Real Arco, e os confrontos com o poder eclesiástico em nome da liberdade de consciência. São marcos que mostram uma instituição em constante diálogo com a sociedade — às vezes em harmonia, outras vezes em conflito — mas sempre guiada por seus princípios de liberdade, igualdade e fraternidade.
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