A Lei da Selva ou da Ajuda Mútua: Qual Praticam os Maçons?


Por Charles-Albert Delatour — Adaptado e traduzido por Luiz Sérgio Castro

Vivemos numa sociedade dita "moderna", onde parece imperar a competição desenfreada. Desde a escola, somos condicionados a acreditar que só os mais fortes sobrevivem, reforçando a ideia da "lei da selva", onde o egoísmo e a força bruta são sinônimos de sucesso.

Mas será mesmo essa a única lei da natureza?

O biólogo Pablo Servigne, em coautoria com Gauthier Chapelle, questiona essa noção em seu livro Ajuda Mútua: A Outra Lei da Selva (Les Liens qui Libèrent). Segundo os autores, a ciência contemporânea começa a demonstrar que a cooperação e a solidariedade são igualmente — ou até mais — essenciais para a sobrevivência e a evolução das espécies do que a competição. Plantas, animais e seres humanos constroem redes de apoio mútuo que desafiam a narrativa darwinista clássica do “cada um por si”.

Diante disso, uma questão provocativa surge: os maçons — que tanto exaltam a fraternidade — realmente praticam a ajuda mútua?

Ideal e Realidade Maçônica

A Maçonaria sempre foi apresentada como um espaço de união fraternal, onde o apoio mútuo e a solidariedade são valores centrais. Entretanto, nas últimas décadas, tem-se observado uma crescente dissonância entre esse ideal e a prática cotidiana em muitas Lojas.

Rivalidades internas, disputas por poder, hierarquizações excessivas e até sinais de elitismo têm minado a coesão fraternal. Em vez de inclusão, muitos irmãos relatam um sentimento de exclusão, provocado por barreiras invisíveis, especialmente quando se trata de acolher minorias ou promover maior diversidade.

Do ponto de vista material, as desigualdades também são evidentes. Enquanto algumas Lojas contam com recursos financeiros para ajudar irmãos em dificuldade, outras mal conseguem manter ações básicas de apoio. Essa disparidade levanta dúvidas sobre o verdadeiro grau de comprometimento com a ajuda fraterna — um dos pilares da Maçonaria.

Caridade em Declínio?

Relatórios internos, raramente divulgados ao público, sugerem um declínio na participação maçônica em trabalhos comunitários e filantrópicos. Com o tempo, observa-se que o engajamento em atividades de caridade — outrora marcas registradas da Maçonaria — tem se tornado menos frequente.

Será que a Ordem está se afastando de seus princípios fundadores?

A resposta não está em fórmulas prontas, mas na necessidade urgente de uma autorreflexão profunda e honesta. A Maçonaria não é imune às tensões do mundo profano, mas cabe a ela cultivar, com mais vigor do que nunca, os valores que a tornaram uma escola ética e espiritual respeitada.

A verdadeira fraternidade não se limita aos discursos, às cerimônias ou aos rituais. Ela exige ação concreta, empatia ativa e uma abertura real ao outro. Se a “lei da selva” privilegia a competição, a Maçonaria tem o dever de ser o bastião da outra lei — a da solidariedade, do cuidado e da ajuda mútua.

Talvez o maior desafio dos maçons contemporâneos não seja resistir ao mundo externo, mas praticar, dentro das Lojas, os ideais que juraram defender. E então, irmãos, qual das duas leis estamos praticando?

AJUDE A MANTER VIVO O BLOG 

E A REVISTA O MALHETE!

Sua doação, de qualquer valor, é essencial para continuarmos compartilhando conteúdos de qualidade. Contribua e faça parte desta jornada conosco!

Postar um comentário

0 Comentários