Princípio Criativo e o Grande Arquiteto do Universo

Por Cristão Belloc

Por que não deveria haver algo em vez de nada?

A ciência está constantemente expandindo os limites que nos separam do incompreensível e do mistério. Paradoxalmente, nunca tantos cientistas se perguntaram sobre a criação. É por isso que convido à reflexão sobre a noção de "Princípio Criador", mencionada na Maçonaria.

Mesmo sendo um tema de compreensão complexa e de definições variadas, este artigo não pretende provar sua existência, mas sim compartilhar perspectivas e correlacioná-las com o ritual do 4º grau.


A Declaração do Convento de Lausanne (1875)

Em 1875, o Convento de Lausanne adotou a seguinte afirmação:

"A Maçonaria proclama, como sempre proclamou, a existência de um Princípio Criativo, sob o nome de Grande Arquiteto do Universo."

Essa formulação genérica não obrigava o maçom a acreditar em um Deus pessoal e transcendente. O objetivo era abrir a Maçonaria aos deístas, alinhando-se aos desenvolvimentos sociais, filosóficos e religiosos da época.

Assim, qualquer homem poderia ingressar na Maçonaria, especialmente no Rito Escocês Antigo e Aceito, desde que reconhecesse a existência de um Princípio Criador.

No entanto, esse postulado não é tão simples quanto parece.


Deísmo, Teísmo e Ateísmo: Caminhos do Pensamento

O deísmo reconhece um poder superior, chamado genericamente de Deus, e que os maçons denominam Grande Arquiteto do Universo. Diferentemente das religiões dogmáticas, essa visão rejeita qualquer revelação ou escritura sagrada.

Já o teísmo defende a existência de um Deus pessoal e transcendente, acessível à invocação e culto, mas sem pertencer a uma religião específica.

Por outro lado, o ateísmo nega a existência de um Criador, sustentando que o universo é eterno, sem começo e sem fim. Para essa visão, não há uma lei moral objetiva imposta por uma entidade suprema, cabendo a cada indivíduo definir sua conduta.

Entre esses extremos está o agnosticismo, que considera Deus incognoscível e inatingível pela razão humana. Assim, não há sentido em buscar ou tentar provar sua existência.

"Se não podemos provar a existência de Deus, tampouco podemos provar sua inexistência."

Essa complexidade do pensamento humano reflete o desafio de conciliar crenças diversas dentro da própria Maçonaria.


Desde os Primórdios da Humanidade

Desde a primeira manifestação da consciência, o homem se questiona:

  • Quem sou eu?
  • De onde eu vim?
  • Para onde estou indo?

Ao observar a natureza, o céu, os planetas, o átomo e o cosmos, surge inevitavelmente a pergunta: quem criou tudo isso?

"Por mais que admiremos o espetáculo do universo, essa admiração está limitada pela nossa pequenez diante de sua imensidão."
Ritual do 4º Grau

Nosso irmão Leibniz, em Os Princípios da Natureza e da Graça (1714), formulou a célebre questão:

"Pode algo existir do nada?"

Se há coisas ao invés do "nada absoluto", deve haver uma razão. Para Leibniz, essa razão está em Deus, o Criador. Ele sustentava que, sendo Deus perfeito, ele escolheu criar o melhor dos mundos possíveis.

Mas essa visão não é predominante nos dias atuais. Muitos cientistas contestam a ideia do Big Bang surgindo do nada, questionando o que existia antes desse evento.

De onde veio a consciência?


Ordem a partir do Caos

Mitos da criação raramente descrevem um universo criado ex nihilo (do nada). Em geral, há a ideia de que o cosmos emerge do caos primordial.

Na Maçonaria, adotamos o lema "Ordo ab Chao" (Ordem a partir do Caos). Esse conceito nos ensina que a desorganização do espírito humano precede a iniciação e a busca pela Luz.

"O ritual maçônico é uma ponte entre o visível e o invisível."

Ao invocarmos o Grande Arquiteto do Universo, passamos do mundo profano para o mundo sagrado, conectando-nos a uma energia superior.

"O que está em cima é como o que está embaixo."
Tábua de Esmeralda

Nosso progresso na Loja busca ordenar o caos interior, permitindo-nos construir nosso Templo Interior e nos tornarmos criadores de nossa própria realidade.


Crença, Racionalidade e Livre Pensamento

A crença em um Princípio Criador não precisa ser dogmática. Ela pode ser um símbolo para representar o mistério da criação e da própria existência.

"A verdade absoluta é inacessível à mente humana. Ele se aproxima dela, mas nunca a alcança."
Ritual do 4º Grau

Dessa forma, a crença não é uma certeza racional, mas uma convicção subjetiva. No entanto, ela inspira regras de vida e pode fundamentar uma ética para orientar a existência humana.

"A Luz está diante de nós, mas a vemos imperfeitamente através do véu da ignorância. Apenas aquele que se esforça para abrir os olhos pode contemplá-la."
Ritual do 4º Grau

Se a morte é o fim absoluto ou uma passagem para outra existência, continua sendo um mistério. Mas as tradições iniciáticas e religiosas sempre alimentaram a esperança de uma continuidade do espírito após a morte.

"Os corpos dos nossos irmãos que partiram retornaram à escuridão, mas seus espíritos ainda brilham."


Conclusão: Rumo à Verdadeira Luz

A humanidade sempre criou deuses e religiões para dar sentido à existência. O Princípio Criador pode ser interpretado como uma projeção da mente humana, uma memória do princípio inicial.

Na Maçonaria, cada um pode conceber o Grande Arquiteto do Universo livremente, sem dogmas.

"A Maçonaria nos ensina que construir nosso templo interior é o caminho para a Verdadeira Luz."

A introspecção, a meditação e o caminho iniciático são ferramentas para acessar o cosmos dentro de nós.

"Conhece a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses."
Sócrates

No final, cabe a cada um de nós buscar essa Verdadeira Luz e revelar ou não o Princípio Criativo dentro de si.

"Todos estamos sujeitos à Grande Lei Universal do Grande Arquiteto do Universo."
Ritual do 4º Grau


Fonte: 450fm

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