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Não tenho medo nem melindres em ser polêmico. Sei que em qualquer hipótese, seja abanando a cabeça como carneirinho, seja apontando o que minha consciência julgue oportuno ponderar, sempre haverá leitores que me combaterão, e isso é ótimo! − educadamente uns ou grosseirões outros poucos, além dos que, a contragosto, vestirão a carapuça e deixarão de falar comigo. Não faz mal; já vivi bastante para aprender que o homem de bem não tem compromisso com o erro; que o compromisso do maçom é com a razão; e, por último (last but not least) tenho convicção íntima de que faço parte da Ordem não para alcançar proveitos que não os do meus esforços em progredir como pessoa. Não acho penoso respeitar as Potências e Obediências; me agrada honrar os Corpos Superiores e seus dirigentes que me distinguiram com os Altos Graus. Minha vida é simples e assim nada faço ou digo com o propósito premeditado de afrontar diretamente os Cargos ocupados pelos dirigentes de nossas Instituições.
Divergências e diferenças de opinião são
parte do “fazer maçônico”, principalmente quando nossa postura é respaldada por
nossa história pessoal como cidadão, profissional, pai de família e possuidores
de ilibada carreira maçônica (ilibada é a pessoa sem mancha, puro,
livre de culpa ou de suspeitas). Em nossa retaguarda – e diante dos meus olhos
– temos o Artigo 5º da Constituição Federal que proclama a todos iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-nos a livre manifestação
do pensamento.
Assim sendo, vamos às reflexões.
Antes porém, peço permissão ao Panteão
Literário para fazer minhas, e sem ofender ninguém, as divertidas palavras do
Imortal MACHADO DE ASSIS no prefácio de ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’:
“... se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar,
pago-te com um piparote, e adeus.”
AS AGRURAS DO MOMENTO ATUAL
Não preciso repetir o que todos já sabem. Mas
em resumo, a situação é essa: o mundo pós-Covid19 vai se deparar com danos cuja
duração ainda é imprevisível. Todas as atividades terão que ser reconstruídas.
Entenda-se pois: a maçonaria faz parte do mundo; e “todas as atividades”
incluem, é claro, a realização das funções específicas da maçonaria enquanto
instituição. Não sou eu que estou dizendo; é o F.E.D., Sistema de
Reserva Federal dos Estados Unidos (United States Federal Reserve System),
composto por um Conselho de Governadores (Federal Reserve Board),
pelo Federal Open Market Committee, pelos presidentes do Federal
Reserve Banks e representantes de bancos privados dos Estados Unidos.
Não se sabe o tempo que levará para as coisas se normalizarem, diz o F.E.D.,
uma vez que a economia mundial veio encolhendo 3,2 % desde abril deste ano e
continua encolhendo ainda mais. Se o F.E.D. está dizendo a
verdade, temos que ficar espertos; se estão tentando nos enganar, então estamos
perdidos de vez.
Em recente entrevista, publicada pelo
Conselho Europeu de Relações Exteriores, George Soros (90 anos),
mega-investidor húngaro-estadunidense, afirmou que a pandemia de Covid19 é a
crise de sua vida. Segundo ele, vivemos um evento sem precedentes com potencial
de transformar para sempre a forma como vivemos. “Nós não vamos voltar para
onde estávamos quando a pandemia começou. Mas essa é a única certeza que temos”,
disse ele.
O que tem isso a ver com instituição
maçonaria ou com “A Maçonaria” enquanto sistema de pensamento moral e ético
velado por símbolos?
DAS AGRURAS AO MOMENTO FUTURO
A maçonaria como instituição − com “m”
minúsculo, para diferenciar de “A Maçonaria” como sistema – não voltará do
pós-Covid19 para recomeçar do ponto em que estávamos quando a pandemia começou;
essa é a certeza que temos. Quem viver, verá. Mas também poderemos não
recomeçar do “ponto TRADICIONAL” em que nos firmávamos como sistema, ou seja:
agora, enquanto ficamos em casa, acontece o “ponto de mutação”.
Neste ponto, o marinheiro experiente fita o
horizonte que parece calmo, mas é capaz de prever a tempestade.
DA NOVA ÉTICA PARA OS NOVOS TEMPOS
Exatamente por estarmos presenciamos grandes
mudanças na sociedade e nos meios de comunicação, seria de se esperar,
principalmente dos mais “modernos”, alguma reverência ao Espírito Tradicional,
ou simplesmente à Tradição, que é a principal coluna de sustentação da
Maçonaria Universal. Se sobrevivemos mais de trezentos anos a todo tipo de
mudanças − das navegações à vela às viagens espaciais, das tiranias feudais aos
regimes democráticos, da pena-e-tinteiro ao teclado dos computadores – será que
justamente agora nos renderemos a uma onda reformista, mormente quanto ela
parte de escritórios e não das assembleias naturais do Povo Maçônico que
são as Lojas?
Senão, vejamos:
1 − Ainda se discute, com maior ou menor
acerto, se o retorno aos trabalhos é prudente daqui a três, seis ou nove meses;
ou se a prorrogação indefinida desse isolamento social é mais aconselhável em
vista da nossa faixa etária e dos locais onde nos reunimos: Templos sem janelas
a portas fechadas. Em ambos os casos há de se considerar “custo e benefício”; o
custo é a vida e o benefício depende da visão de cada um. A figura do líder
desaparece durante o “ponto de mutação” e ressurge o pensamento determinante na
voz do homem comum. Pessoalmente confio no bom discernimento dos Grão-Mestres e
demais autoridades. Quem nos representa são esses mandatários − receberam
mandato para agirem em nosso nome − mandatos esses alcançados pelo voto e
não pela vã presunção ou unção especial caída dos céus.
2 – É impraticável que um grande número de
Irmãos seja consultado nesse momento. Mas, seja pela idade alcançada ou pela
“idade maçônica” (os Graus), pela sabedoria ou estudos realizados ao longo de
toda uma vida, muitos seniores (plural de sênior) estão em condições de
avaliar os novos rumos, e por isso devem ser preservados e respeitados. Causa
indignação quando nos deparamos com colocações do tipo “maçom velho”,
ranzinzas, senil ou decrépitos. Esses palavreados revelam posturas que ferem as
leis profanas e maçônicas; ferem o direito à vida, emasculam a liberdade, e a
segurança; zombam da dignidade humana, da proteção social e da assistência na
doença, na velhice e nos desesperos da viuvez.
“Não é razoável que tantos esforços sejam
feitos para prolongar a vida humana, se não forem dadas condições adequadas
para vivê-la”, disse o escritor Marcelo Antônio Salgado.
As pesquisas indicam que a faixa etária da
maioria dos maçons está entre 38 e 64 anos de idade, com pico aos 57 anos; mas
ainda há os “sobreviventes”, como eu, que já ultrapassamos os 70 e pretendemos
chegar aos 120 anos conforme o máximo preconizado na Bíblia, em Gênesis,
capítulo 6:3.
Entre os seniores (plural de sênior)
que muito admiro estão os que compartilham de forma espontânea, não visando
promoção pessoal ou ganhos materiais, o vasto tesouro tradicional que
entreveram em suas jornadas: são todos abnegados que, de sã e limpa
consciência, cultivaram o conhecimento maçônico em épocas que não havia a
sabedoria do WhastApp nem o professor Google para
diplomar doutores e pós-doutores em “maçonaria”. Foram esses “velhos maçons” –
nem todos escritores ou intelectuais − que construíram operativamente os
Palácios Maçônicos a partir da matéria bruta: prédios e Templos que hoje estão
com as portas fechadas aguardando o fim da pandemia e as decisões dos sábios.
NOVOS TEMPOS, IDEIAS NOVAS
Considero-me feliz por ter ultrapassado a
idade provecta e estar plenamente atualizado em termos de informática, pelo
menos... pois já estão colocando em dúvida o que nós seniores (plural de
sênior) aprendemos na Universidade e na Maçonaria. De minha parte, ainda
sou eu mesmo que dou manutenção na minha rede de intrernet doméstica;
atualizo os sistemas operacionais de dois notebooks e um
computador-desktop, com todos os programas atualizados. Ainda sou eu
mesmo que faço meu café matinal e organizo meus estudos; sou eu mesmo que pago
minhas contas e mantenho, como vocês bem sabem, há mais de 25 anos, sites,
blogs e páginas do Facebook. “Sou um homem, e nada do que é humano me é
estranho”, disse o cartaginês Terêncio em 172 antes de Cristo, quando
não havia café nem computadores.” Apesar dessa valentia toda, não me
sinto confortável, na condição de maçom, para participar das chamadas “reuniões
virtuais”; e não me canso de perguntar aos meus botões quantos desses Irmãos
idosos, merecedores do nosso maior respeito, serão bem sucedidos ou forçados a
operar com êxito os Hangouts_Meet, Zoom, Skype, Web_Ex_Meetings, Slack, Join_me e
outras bugigangas do tipo. Vejo nessa tendência, que entusiasma uma plêiade de
reformistas, um descuido que esbarra na perigosíssima seleção de pessoas (para
não dizer outra coisa!!!).
Como bem salientou o Irmão José Humberto
Bahia, Grão-Mestre do GOMG-Comab em nota de esclarecimento datada de 20 de maio
deste ano, “a realização de uma Sessão Maçônica está regulamentada nos
ordenamentos maçônicos. O Décimo Primeiro “Landmark”, estabelece que a Loja
deverá ‘estar devidamente coberta’ e ainda tem o ‘dever de guardar o Portal do
Templo e manter distantes profanos e curiosos”.
E volto a perguntar aos meus “bor-botões” qual
é o firewall, antivírus ou defenders que
asseguram, ao lado do Guarda do Templo, essas reuniões virtuais. Num passado
recente, para os que estiveram viciados em “coisas virtuais” (e não ouso dizer
“o quê”) deve ser fácil manobrar todas essas ‘mumunhas’ e sair ileso.
Salvo-me, entretanto, nesses prognósticos
sobre reuniões virtuais, naquilo que elas podem ter de valor, mas pelo ângulo
que sabiamente contempla o Irmão Sérgio Quirino, Grande Primeiro Vigilante da
Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, num texto sobre a positividade dessa
modalidade. Diz ele:
“... nessas reuniões virtuais podemos
e devemos decidir sobre o cardápio da festa, se vamos ou não colocar granito ou
mármore no piso, prestação de contas, etc. Assim deixaremos para tratar dentro
do Templo os assuntos que exigem cobertura”.
IDEIAS NOVAS, ANTIGAS ARMADILHAS
Alterações dos regimentos, leis e costumes
maçônicos ainda estão sob jurisdição dos Grão-Mestres e, como
sempre, ouvido o Povo Maçônico que somos nós – os que mantemos as instituições
funcionando, materialmente (com as mensalidades) e espiritualmente (com nossa
força moral).
Mas alguns, movidos pela rebeldia imberbe,
dirão:
− Bah!!! São palavras! nada mais que
palavras! é preciso alavancar a transição! Leiam a nova literatura maçônica que
é mais próxima da escola autêntica!
E pregam o bom senso e juízo crítico alegando
que as Constituições de Anderson não tem qualquer natureza legal; que os maçons
não devem segui-las, nem jurar sobre elas, pois não têm eficácia nem são
capazes (essas antigas Constituições) de produzir efeitos legais; muito menos,
dizem, são um marco da regularidade maçônica. Acontece, meus caros
watsons, que os juramentos feitos sobre a égide das Constituições de
Anderson estão escritos e explícitos nos Rituais. Não jurar sobre elas é
impedimento nas Iniciações e demais Rituais, assim como na investidura de
qualquer cargo; e há outras cominações que me abstenho de citar, remetendo-os aos
Códigos Penais e de Conduta das respectivas Potências.
Nessa mesma esteira de inutilidades, os
reformistas consideram os Landmarks por não encontrarem neles consenso sobre
“uma lista” pela maioria das Potências ou Obediências regulares no resto do
mundo. Aqui é puro contrassenso: primeiro, alegam “escola autêntica” e
reivindicam maioria das Potências ou Obediências em testemunha do que pretendem
demostrar; segundo, desconhecem o que seja Landmark confundindo o conceito com
“uma lista” semelhante à que elaboram para fazer o supermercado.
Se esses antigos documentos da TRADIÇÃO
MAÇÔNICA não têm qualquer natureza legal e não são válidos senão como “peças de
museu” destinadas aos estudos pseudo-acadêmicos, então quais outros fundamentos
temos para seguir na Ordem ou tentarmos prosseguir de agora em diante? Se não são
válidas essas “peças de museu”, quais ordenamentos existem oriundos desses
apartamentos com ar condicionado durante o silêncio e isolamento da pandemia?
Peças de museu é o que temos, e através delas
fomos iniciados. Aprendi que “Maçonaria é pegar ou largar”; é pela
evolução e não pelo motim que as mudanças acontecem para serem benéficas e
perenes.
Até agora não surgiu um gênio como o de
Anderson ou uma inteligência com as de Pike e Mackey para proporem algo melhor,
novos cânones que garantam a sobrevivência da Maçonaria por mais três séculos.
O que temos são teorias e devaneios extraídos
de livros aos quais apenas 1% dos maçons terão acesso, se tanto! Daí, pode-se
falar qualquer coisa para justificar qualquer alucinação.
Hoje querem fazer cair as Constituições de
Anderson e os Landmarks; amanhã cairão as tradições simbólicas do Templo de
Salomão, pois não encontrarão documentos dessa edificação nos cartórios de
registro de imóveis; nem atas de sua fundação ou Instalação de Salomão como
Grão-Mestre. Depois será a vez de se abolirem os Aventais, uma vez que não
somos operativos nem precisamos proteger nossos ternos das asperezas das pedras
brutíssimas. Abolirão os altares, os Livros da Lei e as Iniciações: novos
maçons serão admitidos on line mediante o CPF, conta-de-luz
para atestar residência, um certificado da polícia do bairro e, tudo aprovado,
implantarão um chip no cérebro do néo-maçom com todos os Rituais e literatura
concernente.
E viva a distopia maçônica! Pior do que os
efeitos financeiros pós-Covid19 na maçonaria, serão os danos urdidos em
bastidores identificados apenas por links.
Lamento que ainda não estejam entre nós os
Irmãos José Castellani, Kurt Prober, − ou aqui nas montanhas os Irmãos Onéas
D’Assumpção Corrêa, Pedro Campos de Miranda e Gerardo Cordovil; esses
dissertariam melhor sobre essa “pandemia-maçônica” que, na ausência de uma
vacina eficaz, melhor fariam os infectados reinventores da roda se traçassem
planos factíveis para o pós-Covid19 – projetos com princípio, meio, método e
fim – e submetessem suas ideias aos Grão-Mestres e dirigentes dos Altos Corpos
para votação em assembleias do Povo Maçônico. Para isso – e apenas para
essas finalidades − seriam oportunas as tais sessões maçônicas por
meio virtual, sempre coordenadas por autoridade maçônica e respeitadas
as tradições da Ordem Maçônica.
Do contrário, como me disse um Irmão
amargurado e ironicamente: “... melhor seria que a pura maçonaria
voltasse a ser clandestina como nos séculos XVI e XVII, operando escondida nos
porões, cada maçom dando tudo de si para a segurança de todos – exercitando
a fiel obediência aos princípios que unem os verdadeiros Irmãos”.
SIC TRANSIT GLORIA MUNDI
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SIC TRANSIT GLORIA MUNDI
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