Irmão Francisco Feitosa
Europa,
Idade das Trevas. Após a queda do Império Romano do Ocidente, a Europa viveu
uma época extremamente difícil, sem lei e sem ordem, tomada pela violência,
miséria, ignorância, pragas e, ainda, sofrendo com as guerras civis e invasões
bárbaras.
Os
registros existentes, sob total influência da Igreja, são escassos e
controversos. Às mulheres nenhum direito. Seus maridos podiam surrá-las e sua
educação era proibida, visto que, no dizer da época, eram incapazes de
raciocinar.
Nesse
cenário, em meados do século IX, nasceu Joana, em Engelheim, Mainz, Alemanha.
Filha de um cônego inglês e possuidora de uma inteligência privilegiada.
Aprendeu a ler e a escrever desde cedo, sendo considerada uma aberração para a época.
Já na adolescência, dominava, também, o latim e o grego. Com esse talento
descomunal e extraordinária sede de saber, só nos monastérios poderia
aprofundar seus estudos.
Assumiu,
então, uma identidade masculina e ingressou no Monastério de Fulda, com o nome
de Johannes Anglicus. Ali, com uma biblioteca a sua disposição, aprofundou-se
nos estudos religiosos e clássicos, além de interessar-se, também, pelas
ciências. Com seu intelecto prodigioso, tornou-se extremamente culta. Era uma
erudita. Passados alguns anos, sentiu que era hora de partir para Roma, centro
do poder religioso. Lá, com sua sabedoria, ganhou prestígio e respeito entre os
ilustres dignitários da Igreja. Foi nomeada Secretário da Cúria e, em seguida,
Cardeal.
Em
855, com a morte do Papa Leão IV, foi aclamada Papa, com o nome de João VIII.
Seu pontificado distinguiu-se pela justiça e defesa dos mais humildes; era um
Papa discreto e quase não aparecia em público. Certo dia, durante uma procissão
solene, com pompa e circunstância, a cavalo e à frente do cortejo, como era de
costume, Joana sentiu-se mal; dores violentas fizeram-na cair do cavalo. Ali,
entre dores, sangue e lágrimas, deu à luz uma criança.
Alguns
cardeais, atordoados, ajoelharam-se, exclamando: “milagre, milagre!”. A partir
daí, os relatos divergem. Segundo alguns, a multidão reagiu com indignação,
apedrejando Joana e a criança até a morte. Para outros, foram encerradas no
castelo papal, até o fim de seus dias. Em outra versão, ela e a criança
morreram de complicações do parto.
Durante
muitos séculos, a história da Papisa Joana havia sido reputada pelo próprio
clero como incontestável, mas, com o andar dos tempos, os ultramontanos, compreendendo
o escândalo e o ridículo que o reinado de uma mulher devia lançar sobre a
Igreja, trataram como fábula digna do desprezo dos homens esclarecidos o
pontificado dessa mulher célebre. Autores mais justiceiros defenderam a
reputação de Joana e provaram, com testemunhos os mais autênticos, que a Papisa
havia ilustrado o seu pontificado com o brilho das suas luzes e com a prática
das virtudes cristãs.
O
fanático Barônio considera-A como um monstro que os ateus e os heréticos
tinham evocado do inferno por sortilégios e malefícios; o supersticioso
Florimundo Raxmond A compara a um
segundo Hércules que teria sido enviado do céu para esmagar a Igreja romana,
cujas abominações tinham excitado a cólera de Deus. Contudo, a Papisa foi,
vitoriosamente, defendida por um historiador inglês, chamado Alexandre Cook;
a sua memória foi vingada por ele das calúnias dos seus dois adversários, e o
pontificado de Joana retomou o seu lugar na ordem cronológica da história dos
papas. As longas disputas dos católicos e dos protestantes acerca dessa mulher
célebre deram um atrativo poderoso à sua história, e somos obrigados a entrar
em todos os detalhes de uma existência tão extraordinária.
Uma
das provas mais incontestáveis da existência dEla existe exatamente no Decreto,
publicado pela corte de Roma, proibindo que se colocasse Joana no catálogo dos
papas. Assim, acrescenta o sensato Launay, não é justo sustentar que o silêncio
guardado sobre essa história, nos tempos seguidos imediatamente ao
acontecimento, seja prejudicial à narrativa, mais tarde, feita. É verdade que
os eclesiásticos contemporâneos de Leão IV e de Bento III, por um zelo
exagerado pela religião, não falaram dessa mulher notável, mas os seus
sucessores menos escrupulosos descobriram, afinal, o mistério...
Verdade
ou lenda? Para muitos, a história da Papisa é pura lenda, e o argumento
principal é a falta de registros sobre Ela em documentos da época. Ora, se
considerarmos que o poder da Igreja, naqueles tempos, era incomensurável e os
historiadores eram prelados, fica fácil deduzir a falta de registros sobre a Mesma,
uma vez que fortes razões, sempre, imperaram no Vaticano para que se omitisse a
ascensão de uma mulher ao Trono de São Pedro.
Assim,
desconsideraram o seu Papado de dois anos e alguns meses e fizeram suceder a
Leão IV o Papa Bento III, nomeando, ainda, em 872, outro Papa com o mesmo nome
adotado pela Papisa, João VIII. Alguns fatos, entre inúmeros outros, no
entanto, dão força à história da Papisa: em 1276, o Papa João XX, após rigorosa
investigação, mudou seu nome para João XXI, com isso, reconhecendo o Papado de
Joana; existiu, também, entre diversos bustos papais de terracota, na Catedral
de Siena, um da Papisa, até 1601, quando, por determinação do Papa Clemente
VIII, desapareceu. Outro fato importante foi a existência de uma cadeira com um
buraco no assento, usada nas cerimônias de consagração papal, exatamente, a
partir daquele momento até o século XVI.
O
recém-eleito era ali sentado, e procedia-se a um exame palpável para se
determinar se era, de fato, do sexo masculino. Só, então, o camerlengo
anunciava as palavras esperadas: “Habemus Pappam”. Essa cadeira, ainda, existe
em Roma, não podendo a Igreja negar a sua existência.
Assim,
segundo os testemunhos mais irrecusáveis e mais autênticos, está demonstrado
que a Papisa Joana existiu no nono século; que uma mulher ocupou a Cadeira de
S. Pedro, foi o Vigário de Jesus Cristo na Terra e proclamada Soberana Pontífice
de Roma!
Uma
mulher assentada na cadeira dos papas, ornando-lhe a fronte a tiara e tendo nas
mãos as chaves de S. Pedro, é um acontecimento extraordinário, de que os fatos
da história oferecem um único exemplo! E o que mais admira, ainda, não é uma
mulher elevar-se pelos seus talentos acima de todos os homens do seu século,
pois houve heroínas que comandaram exércitos, governaram impérios e encheram o
mundo com a fama de suas glórias, sabedorias e virtudes; mas o fato de Joana,
sem exércitos, sem tesouros, não tendo outro apoio senão a sua inteligência, ser
assaz hábil para enganar o clero romano e fazer que lhe beijassem os pés os
orgulhosos cardeais da cidade santa. É isso que a coloca acima de todas as
heroínas, porque nenhuma delas se aproxima do que há de maravilhoso numa mulher
feita papa.
A
Papisa foi imortalizada no século XI, em uma das cartas do tarô de Marselha,
representando a sabedoria, o conhecimento, a intuição e a chave dos grandes
mistérios. A história foi, também, contada num filme, em 1972, estrelado por
Franco Nero, Liv Ullman, Olívia de Havilland e outros.
*Trabalho
de compilação baseado nos livros: “Papisa Joana”, de Donna Woolfolk Cross; “A Papisa
Joana – O Mistério da Mulher Papa”, de Rosemary e Darroll Pardoe; "O Crime
dos Papas", de Maurice de Lachatre.
2 Comentários
Lenda sem fundamento.
ResponderExcluirCAROS IRM . ' .
ResponderExcluirJUSTO E PERFEITO , ' ,