Muito
se tem falado sobre a participação da Maçonaria no movimento pela independência
do Brasil, a Inconfidência Mineira. Pesquisadores e historiadores têm-se
baseado em documentos oficiais, assim como algumas obras de autores
conceituados, brasileiros e portugueses. Alguns historiadores, principalmente
aqueles que se especializaram na história do Brasil, insistem em ignorar a
influência da Maçonaria no Movimento Mineiro.
Na
verdade a Maçonaria contribuiu significativamente não só com o movimento de
Minas, mas em todos os capítulos que culminaram com a nossa independência. Como
tenho citado, na época do movimento, a maçonaria era uma sociedade secreta e
clandestina, não admitida em território brasileiro, assim como na Metrópole. As
Lojas Maçônicas eram proibidas de funcionar e seus membros perseguidos e presos
pelo crime de pertencer a tal ordem. Já naquela época existia o jeito
brasileiro de resolver as coisas, ou seja, jeito de dar legalidade à coisas
proibidas.
Partindo
de Tomaz Antônio Gonzaga e José Álvares Maciel, as iniciativas para
arregimentação de adeptos à causa, contou com a fundação de Lojas em Minas, Rio
de Janeiro e São Paulo, onde se faziam reuniões e traçavam-se planos para a
rebelião. Naturalmente essas lojas, apesar de reunir somente maçons não tinham
título de Lojas Maçônicas. Eram sociedades Literárias. Academias, Aerópagos e
Arcádias Literárias, como afirmado no livro do historiador Antonio Augusto de
Aguiar - A Vida do Marques de Barbacena - página 7: "organizou Álvares Maciel sociedades em Minas Rio de Janeiro e São
Paulo, com intuito de por meio delas fazer a propaganda das idéias e preparar
elementos, que na hora oportuna, fizessem a revolução". E confirmado pelo
também historiador Gustavo Barroso em uma das suas obras: "Em Vila Rica,
sede do governo da capitania, havia uma roda de homens cultos, participantes de
uma arcádia literária, a qual facilmente se tornaria o centro diretor de
qualquer momento de idéias a se objetivar em ação. Tornou-se com efeito, e
envolto em tanto mistério, que mal sabiam os conjurados do que nele se tratava,
nem ao certo as pessoas que se compunha".
Já
nos preparatórios para a independência, vários fatos, de importância
significativa, foram planejados e levados a efeito pela Maçonaria, como o FICO
a criação dos Conselho dos Procuradores , o Juramento da Constituição.
Movimentos estes que tiveram à frente Joaquim Gonçalves Ledo e seu grupo. Não
obstante, vários historiadores têm afirmado a incontestável presença da
Maçonaria na nossa Independência.
A INCONFIDÊNCIA
MINEIRA
Desde
os primórdios de nossa história, constatamos a insatisfação do nosso povo com o
jugo português. A exploração do homem levada pela cobiça insaciável de Portugal
que tinha o nosso território como uma mina, de onde se extraia todas as
riquezas que eram transportadas para a Metrópole. Muito se falava em
independência naquela época. Falava. Nada se escrevia.
Não
se pode negar que a nossa independência teve a sua origem no movimento iniciado
no arraial do Tijuco - hoje Diamantina - que rapidamente se ramificou em todo
território brasileiro. Posteriormente alcançou seu ponto alto de realização em
Vila Rica - hoje Ouro Preto - que na época era a sede da Capitania de Minas
Gerais.
A
Inconfidência Mineira à qual só foi dada importância quando descoberta foi, sem
nenhuma dúvida, o movimento libertador do Brasil e desopressor mineiros tão
explorados e extorquidos pelos portugueses. Foi um movimento com idéias
importadas da França, onde alguns jovens brasileiros completavam seus estudos,
principalmente na universidade de Montpellier, onde tinham o primeiro contato
com a Maçonaria. Nas centenas de Lojas em território francês, era pregado a
Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Nessas Lojas planejou-se a Revolução
Francesa e discutiu-se amplamente a libertação dos mineiros e do Brasil.
Tenónio D'Albuquerque, historiador mineiro, em uma das suas obras, menciona:
"Não é apenas infantilidade e sim estultice, e sim obstinação ocorrente de
fanatismo, negar-se a reconhecer na INCONFIDÊNCIA MINEIRA, um empreendimento
maçônico. É bastante atentar-se na sua bandeira, nos seus objetivos: LIBERDADE,
IGUALDADE, pela educação do homem com a criação de sua universidade, e
fraternidade pela união dos brasileiros em termos de um ideal supremo: a
constituição de um pátria livre." E, na formação desse movimento é
imprescindível citar a liderança de maçons, tais como: Álvares Maciel, Domingos
Vidal Barbosa, José Joaquim da Maia, e outros mais, que se iniciaram na maçonaria,
na Europa. José Álvares Maciel, Maçom iniciado na Europa, é considerado por
todos os estudiosos o intelectual da Inconfidência Mineira. Álvares Maciel.
Álvares
Maciel, nascido em VILA RICA, filho do guarda - mór da sede da capitania de
Minas Gerais e de mãe mineira nascida em MARIANA cursou a universidade de
Montpellier então poderoso centro da irradiação da MAÇONARIA, onde deve ter
ingressado na ordem maçônica a menos que já houvesse assim procedido em
Coimbra, como ocorrera com outros estudantes brasileiros. Homem culto e
idealista aceitou e cultivou imediatamente o princípio de Liberdade, Igualdade
e Fraternidade da Maçonaria. Desde lá pensava ele na emancipação da sua pátria
distante onde não havia Liberdade e predominava a escravidão e a exploração
pelos portugueses contra o preceito de Liberdade, bem como na existência de
justiça e onde a FRATERNIDADE não era praticada, haja vista os suplícios
impostos aos brasileiros. Com o desejo de ver a pátria livre, retorna Álvares
Maciel ao Brasil, após empreender longas viagens e vários contatos com outros
maçons como o venezuelano Francisco Miranda, maçom exemplar que havia
contribuído com a independência de países latino-americanos, através da Loja
Grande Reunião americana, por ele fundada em Londres.
E
escreve historiador JOAQUIM NORBERTO na sua obra: "História da Conjuração
Mineira" - volume 1 - Página 81: " Vinha o jovem Maciel de países
livres, onde adquiria instrução e onde fora iniciado nos mistérios da
MAÇONARIA". Após seu regresso, juntamente com estudantes brasileiros que
também retornavam empolgados pela ação humanitária e fraternal desenvolvida
pela MAÇONARIA na Europa, no sentido de assegurar os direitos que dignificam o
homem e na defesa da liberdade dos povos, cresce e se fortifica o movimento que
mais tarde levou o nome de INCONFIDÊNCIA MINEIRA. No retorno de ÁLVARES MACIEL
ao Brasil, ocorreu para a felicidade e consumação do sonho de LIBERDADE o
"encontro da intelectualidade com a bravura" - os ideais do homem
culto e idealista com o caráter forte e exaltado do miliciano que conhecia o
verdadeiro significado da palavra Liberdade e converteu-se num seu soldado
fervoroso - o alferes JOAQUIM José da Silva Xavier - O TIRADENTES.
Já
que seus ideais eram idênticos, - um Brasil livre da escravidão, governado pelo
seu próprio povo que faria suas próprias leis - estava concluída a principal
fase da Inconfidência, conforme afirma o historiador Gustavo Barroso: "no
Rio de Janeiro, TIRADENTES pusera-se em contato com um moço mineiro que regressava
formado da Europa, o Dr. José Álvares Maciel, o qual segundo o depoimento de
Domingos Vidal, estivera na Inglaterra, buscando apoio para o levante de Minas
Gerais."
A
partir daí, novos adeptos foram surgindo e as suas idéias foram disseminadas
nas sedes das principais Capitanias. Paralelamente aos acontecimentos que se
desenvolviam no âmbito secreto das "sociedades" criadas por Álvares
Maciel, caminhava Joaquim José da Silva Xavier - Tiradentes, com sua pregação
cívica em prol da Liberdade. Homem simples, em comparação com aqueles que
tiveram a oportunidade de estender seus conhecimentos nas universidades da
Europa, nascido numa fazenda de Pombal entre São José (hoje Tiradentes) e São
João Del Rei, Minas Gerais. O jovem Tiradentes não fez estudos regulares,
aprendendo as primeiras letras com seu irmão Domingos. Órfão aos 11 anos ganhou
o mundo: foi mascate, minerador e dentista prático, Aliás, sua alcunha adveio
na habilidade com que manejava o boticão e como diz um historiador, que o fazia
"com a mais sutil ligeireza e ornava a boca de novos dentes, feitos por
ele mesmo, que pareciam naturais". Daí a sua popularidade que se estendeu
até o Rio de Janeiro.
Tendo
ingressado na vida militar - pertenceu ao regimento de Dragões de Minas Gerais
- o que lhe permitiu conhecer palmo a palmo todo o território da capitania e já
no posto de Alferes como comandante de patrulhas, mostrou-se sempre um bravo e
destemido miliciano, desempenhando missões difíceis, que lhe valeram elogios do
governador. Entretanto a bravura e o destemor sempre demonstrados pelos
"alferes" corriam pelo ar os pensamentos sólidos e alicerçados de
Tiradentes, que com seu conhecimento do verdadeiro significado da palavra
LIBERDADE, não se furtava em proclamá-lo, não só no território da capitania,
mas também fora dele.
Obviamente,
que o procedimento de Tiradentes, como miliciano que era, aos olhos da coroa,
não eram bem vistos e ainda mais, por estar participando das sociedades
secretas então já existentes, valendo-lhe em consequência, perseguições como
suspensão do soldo, preterição nas promoções e outras, culminando com seu
deslizamento das milícias mineiras.
Sim,
nenhuma dúvida pode restar, de que as sociedades secretas das quais participava
Joaquim José da Silva Xavier, nada mais eram que a maçonaria. Portanto,
Tiradentes havia ingressado nos mistérios da maçonaria e consequentemente era
Maçom. Aliás, vale a pena citar a esse respeito o que disse o historiador
Joaquim Norberto em sua obra "História da Conjuração Mineira" - Tomo
l - Página 96: "No dia 28 de agosto de 1.788 apresentou-se o alferes
Joaquim José da Silva Xavier ao comandante do seu regimento, para dar parte de
doente, pois com efeito chegara enfermo a Vila Rica. Reteve-o a sua enfermidade
em casa pelo espaço de três meses, suspenderam-lhe o soldo e teve ele que
recorrer ao empenho da amizade que contraíra na cidade do Rio de Janeiro com o
Dr. José Álvares Maciel. Era este jovem parente do tenente-coronel de seu
regimento - Francisco de Paula Freire de Andrade e foi fácil obter o que
desejava o pobre alferes. Renovou Tiradentes a prática que tivera com o Dr.
Álvares Maciel na cidade do Rio de janeiro e conseguiu ser, por intermédio da
sua pessoa, iniciada nos mistérios da conjuração, que desde muito tempo se
tramava em Vila Rica". Segundo alguns renomados historiadores, dentre os
quais Tenório D'Albuquerque, possivelmente Tiradentes ingressara na maçonaria
através de José Álvares Maciel, outros, contudo, admitem que José Joaquim da
Silva Xavier, quando mascate se fez maçom na Bahia, numa das suas muitas
viagens àquela localidade.
Tudo
faz crer que tenha sido iniciado em Minas, isso não é relevante, Bahia, Rio de
Janeiro ou em Minas Gerais, não importa. O que importa, neste momento é afirmar
que Tiradentes foi maçom convicto e entusiasta, o que demonstrou nas suas
andanças e na pregação das doutrinas maçônicas que se identificam com a
Liberdade. É de se louvar o comportamento e o trabalho do destemido Maçom
Tiradentes, arriscando a vida com sua pregação de Liberdade. Participou de
várias Lojas Maçônicas em Minas Gerais, com o apoio resoluto da maioria das
populações, que viam na maçonaria, intransigente defensora da Liberdade, da
dignidade, dos direitos do homem, um meio para reagir contra os desmandos dos
prepotentes e contra as arbitrariedades daqueles que desonravam o poder. O
fracasso do movimento Inconfidência Mineira, que tinha como principal objetivo
gerado pelo descontentamento e pela forma abusiva com que Portugal explorava as
minas da capitania, bem como a delação pelo traidor Joaquim Silvério dos Reis,
é por todos conhecido através da história.
Tiradentes
foi preso no Rio de Janeiro a 10 de maio de 1.789 enquanto que em Minas Gerais,
eram feitas prisões de todos os envolvidos no movimento. Iniciaram-se os
trabalhos da devassa, que se arrastariam por longos anos e enquanto os demais
integrantes da inconfidência mineira também presos, tratavam de se defender,
muitos até mesmo negando responsabilidades com o movimento, Tiradentes as
assumia integralmente, com silenciosa e serena bravura. Não constou em nenhum
auto nenhuma delação por parte do Alferes ou revelação dos nomes dos seus
amigos de causa. Finalmente a 18/04/1792, foi prolatada a primeira sentença,
condenando a morte por enforcamento a Tiradentes e mais 10 integrantes do
movimento. No dia seguinte, ou seja, em 19/04/1.792 na cadeia publica, foi lida
a sentença que o declarava único culpado da sedição, quando Tiradentes ouviu
sem pestanejar, a sua condenação.
Após
a leitura da sentença foi tornada pública a Carta-Régia, conservada em sigilo,
segundo a qual D. Maria l deferia ao tribunal o poder de comutar a pena capital
pela pena de degredo e por nova sentença de 20/04/1792, entenderiam os juizes
que só não deveria ser poupado o "enfame réu" Joaquim José da Silva
Xavier, considerado "indigno da real piedade". A 21 de abril, com o
aparato de costume naquela época, executou-se a infamante e absurda sentença,
marchando Tiradentes para o sacrifício, sem que se alterasse a placidez do seu
rosto e sofreu o martírio como um apóstolo da sacrossanta causa da liberdade e
da redenção do Brasil.
Enforcado
e depois de morto, teve a cabeça cortada e levada a Vila Rica, onde em local
mais concorrido, foi colocada sobre um poste, seu corpo esquartejado foi
espalhado pelos caminhos de Minas em várias povoações até consumir-se
totalmente, declarados infames seus filhos e seus netos, a casa em que vivia em
Vila Rica, totalmente arrasada e na qual foi semeado sal, para que nunca mais
se edificasse em seu solo, tudo em cumprimento a terrível condenação que lhe
foi imposta.
Foi,
portanto, Tiradentes, ao proceder maçonicamente e assumindo a heróica atitude
que o levou a sofrer morte horrível e infamante, sem sombra de dúvidas, o
primeiro Mártir maçom brasileiro publicamente conhecido a dar sua vida pela
causa da liberdade da sua pátria.
Por
Nêodo Ambrósio de Castro,
M.'.M.'.
- ARLS Benso di Cavour nº 28, Juiz de Fora - MG / Brasil
2 Comentários
Caro Ir:. Nêodo Ambrósio de Castro
ResponderExcluirParabéns pela pesquisa e elaboração do significativo texto. Bom saber que hoje em dia ainda tenhamos irmãos que tem por objetivo dar nomes e sentido a cada nó de nossa corrente,Afinal tudo dentro da nossa fraternidade tem um sentido e um conhecimento-lição. TFA Ricardo V. Barradas.
Gostei muito do texto.
ResponderExcluirT.'.F.'.A.'.