Folia de Reis


Artigo do Grão-Mestre Barbosa Nunes
Estive presente em quase todos os Encontros de Folia de Reis, organizado pela Prefeitura Municipal de Goiânia. Em janeiro de 2012, aconteceu sua décima primeira edição. Sempre me emocionei ao presenciar inúmeros grupos com muita devoção cantando e louvando o Menino Jesus. Em algumas oportunidades fui distinguido para segurar a bandeira da folia de reis que se apresentava.
Ao olhar os chamados foliões, muitos ajoelhados em cantorias nascidas do fundo do coração, da raiz do povo, sentia-me muito identificado com esta manifestação.
Encontrei em uma bancada de livros expostos, ao lado da Matriz de Campinas, ponto final das apresentações ao longo da Rua José Hermano, uma educada pessoa, que disponibilizava o seu livro intitulado “Folia de Reis – Povo de Deus: ensaio místico-folclórico”. Adquiri, li e posso indicar como obra completa sobre o tema, estudo aprofundado e histórico.
Interessei-me pela sua obra literária, tomando conhecimento que se tratava de José Vigilato. A publicação é prefaciada e apresentada por Waldomiro Bariani Ortêncio e padre Agnaldo Gonzaga.
Bariani Ortêncio, sobre Vigilato, assim escreve: “Vigilato conseguiu que esse estudo se transformasse em mais do que um manual e sim, em cartilha, porque ensina sobre o assunto desde as “primeiras letras”, os lugares geográficos, o porquê, enfim, a história vinda para o Brasil dos primórdios, do Oriente e da Península Ibérica. Além de fazer história por estudos teóricos, o autor tem um crédito a mais: a prática, pois folião que é, vive o evento desde rapazinho, onde nasceu e se criou, em Mirandópolis e Mossâmedes, aqui em Goiás”.
Enquanto a apresentação do padre Agnaldo Gonzaga, assim é exposta:
“Pois bem, por entender muito dessa riqueza das folias de reis, José Vigilato escreve “Folia de Reis – Povo de Deus: ensaio místico-folclórico”. Vigilato é folião de reis e católico praticante. Mineiro de Pouso Alegre, mudou-se para Mossâmedes quando ainda criança.
Quando jovem, fez-se morador de Goiânia e funcionário público. Atualmente, durante o ano, participa de sua comunidade católica no Jardim Novo Mundo, mas quando chega dezembro, faz-se membro efetivo do seu grupo de folia de reis, o de Mirandópolis – município de Mossâmedes – um grupo bem conhecido na região por agrupar milhares de pessoas em seus dias de giro e festa. Vigilato escreveu uma obra a partir de sua experiência “místico-folclórica” e depois de intensa pesquisa.
Com esforço próprio de um folião e habilidade de escrivão de polícia que é, fez de forma competente o que muitos gostariam de fazer: publicar um livro com riqueza de informações existentes em grupos de folias de reis”.
Folia de reis é comemoração festiva originária de Portugal, ligada ao Natal. Apresenta caráter profano-religioso, fazendo parte do período natalino entre 24 de dezembro e 6 de janeiro, quando das comemorações do nascimento de Jesus, com festejos populares, chamados de Congados, Império do Divino, Reinado do Rosário e Pastorinhas.
A visitação das casas neste período é feita por grupos organizados, muitos por propósitos sociais e filantrópicos. Em alguns lugares Folia de Reis, em outros Terno de Reis, composto por músicos executando instrumentos como tambores, reco-reco, flauta, rabeca, além da viola caipira e do acordeão. O grupo também é composto por dançarinos, palhaços e outras figuras folclóricas.
As canções são sempre sobre temas religiosos, com exceção daquelas tocadas nas tradicionais paradas para jantares, almoços ou repouso dos foliões, onde acontecem animadas festas com cantorias e danças típicas regionais, como catira, moda de viola e cateretê. É o conhecido “pouso de folia”, que vara a noite, especialmente na zona rural.
Sob o olhar de vários segmentos a respeito da folia de reis, José Vigilato, escreve em seu livro:
“Para os foliões, os devotos dos Reis Magos e o povo religioso e simples, a folia de reis é um segmento da religião católica. A prática da folia, a partir do dia do Natal, além de um cerimonial de louvação dos foliões, e da visitação fraterna aos lares cristãos, é também o contar da história bíblica a respeito da chegada de Jesus; da viagem e adoração dos magos e também uma forma de evangelizar. Os protestantes radicais, dizem ser a folia, heresia, idolatria. Para os intelectuais, é folclore. Para a Igreja Católica Apostólica Romana, é uma cerimônia aceita, destinada a festejar os santos populares Belchior, Gaspar e Baltazar, e o Menino Jesus”.
A folia de reis como folclore traz a cultura da tradição secular da Península Ibérica desde o século XIII e no Brasil, desde o seu descobrimento. Compreende a sabedoria popular dos portugueses, sofrendo influências culturais de vários povos.
A folia como manifestação religiosa é própria do povo católico, mormente do catolicismo popular. Exprime a fé fundamentada no catolicismo. É uma das maneiras de um povo simples cultuar a Deus e aos santos da devoção. A folia de reis não faz parte da liturgia da Igreja. A Festa de Reis, com o nome de Epifania, em grego significa “aparição, manifestação”.
A folia, como grupo de pessoas que executa aquilo que é próprio dela, é uma sociedade, uma corporação, uma expedição de caráter religioso para festejar os santos da Igreja. Na fé do povo simples do interior, no dia 6 de janeiro, realiza-se a Festa de Santos Reis, ficando o mês de janeiro também preenchido por estas comemorações.
Concluo este artigo levando a imagem de fé e alegria, que nós todos temos marcado em nosso interior ao participarmos de um pouso de folia, na música cantada pela conhecida e respeitada dupla goiana, André e Andrade.
Cantemos juntos “Folia de Reis”.
“Senhor e dono da casa, vai chegando a folia, vem beijar a nossa bandeira e escutar a cantoria, vem beijar a nossa bandeira e escutar a cantoria ai ai ai!
Senhor e dono da casa, se não for muito custoso, vem abrir a sua porta que nóis viemos de pouso, vem abrir a sua porta que nóis viemos de pouso ai ai ai!
Nosso corpo quer descanso, nóis precisamos dum canto, nossa arma quem vigia é o Divino Espírito Santo, nossa arma quem vigia é o Divino Espírito Santo ai ai ai!
Senhor e dono da casa, a folia vai saindo, fica com Deus nosso pai e a proteção do Divino, fica com Deus nosso pai e a proteção do Divino ai ai ai!".

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