Fernando de Noronha: O paraíso às avessas

O paraíso às avessas. Em texturas, retratos e flagrantes que se distanciam dos dias ensolarados, do azul cristalino do oceano, da beleza exuberante de uma Fernando de Noronha que o mundo acostumou-se a enxergar ou a imaginar.
   Aqui o cartão-postal emoldura uma outra ilha: a República de Noronha. O turista vai e não vê. Ninguém vê. Ninguém sabe dos meninos de pés de plásticos que desafiam a lama para chegar à escola, num ritual tão humilhante quanto cotidiano.

O pacote turístico não prevê visitas ao Carandiru, como é chamado o prédio público ocupado por famílias que vivem espremidas em quartinhos, disputando varal e banheiro coletivos. Tampouco passeia pela favela de iglus, que se esconde no quintal do Projeto Tamar. Este, sim, visitado e festejado. Coisa de Primeiro Mundo. Mas quem se arrisca a olhar por trás das maquetes de tartarugas gigantes que enfeitam o local vai descobrir moradores vivendo em casas de zinco, com ratos, mosquitos e paredes que dão choque quando chove.

Foi do exercício incômodo de olhar para muito além do alumbramento que emergiram as imagens deste [material] especial. Nessa outra ilha, aqui desvendada, o dinheiro público destinado à escola é desperdiçado em equipamentos que envelhecem em caixas fechadas; professor morto figura em lista para receber gratificação; salas de hospital viram depósitos; médicos dão diagnósticos errados; livros se estragam para beneficiar interesses privados.

As leis na República de Noronha se ajustam às conveniências políticas. São códigos próprios. Estabelecidos em função de práticas nem sempre republicanas. O que é proibido a muitos vira autorização para poucos. Pelo ato milagroso de uma simples canetada. Leia mais em A República de Noronha

Postar um comentário

0 Comentários