Cavaleiro de Saint-Georges: O Primeiro Maçom de Pele Preta e Sua Extraordinária Jornada



Por Luiz Sérgio Castro

Joseph Bologne, conhecido como Cavaleiro de Saint-Georges, nasceu em Guadalupe em 25 de dezembro de 1739. Filho de uma escrava africana e de um latifundiário francês, Saint-Georges enfrentou desde cedo as adversidades impostas pela sua condição racial. No entanto, ele transcendeu essas barreiras para se tornar uma figura notável na música, esgrima, política e, significativamente, o primeiro maçom de pele preta.

Primeiros Anos e Educação Aristocrática

Quando Saint-Georges tinha menos de dez anos, seu pai o levou, junto com sua mãe, para a França. Lá, decidiu proporcionar ao filho uma educação reservada à alta aristocracia. Saint-Georges rapidamente se destacou como o esgrimista mais famoso de Paris, vencendo inúmeros duelos e sendo amplamente admirado por suas habilidades excepcionais.

Carreira Musical Brilhante

Paralelamente à esgrima, Saint-Georges revelou-se um prodigioso violinista e maestro. Ele elevou sua formação musical ao nível de melhor orquestra europeia, atraindo a atenção e a admiração de figuras importantes da época. Mozart, embora ciumento de seu talento, inspirou-se em suas obras, reconhecendo a genialidade de Saint-Georges.

Como músico, Saint-Georges tornou-se o preferido da Rainha Maria Antonieta, que frequentemente assistia aos seus concertos. Ele encomendou a Joseph Haydn a produção de seis sinfonias parisienses, cujas estreias Saint-Georges dirigiu no Palácio das Tulherias na presença da rainha. Além disso, ele atuou como tutor de música da rainha.

 

Obstáculos Raciais e Conscientização

Apesar de seu talento e das conexões influentes, Saint-Georges enfrentou severo preconceito racial. Quando Maria Antonieta decidiu nomeá-lo diretor da Ópera Real, a decisão gerou uma controvérsia racista, forçando a rainha a desistir da nomeação. Este episódio marcou um ponto de virada para Saint-Georges, que passou a se envolver mais profundamente com o movimento iluminista.

A Maçonaria e o Movimento Iluminista

Saint-Georges aproximou-se do Duque de Orléans, que o introduziu na maçonaria, tornando-se o primeiro maçom de pele preta. A maçonaria era um espaço que promovia ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, alinhando-se perfeitamente com as convicções de Saint-Georges. Ele também se juntou à Sociedade dos Amigos dos Negros, ao lado de figuras como Condorcet, lutando pela abolição da escravidão.

Atuação na Revolução Francesa

Em 1790, Saint-Georges retornou à França e ingressou na Guarda Nacional, tornando-se o primeiro coronel de pele negra do exército francês. Ele criou um regimento composto por negros e mestiços, conhecido como "Legião de São Jorge". Entre seus oficiais estava o futuro General Dumas, pai do famoso escritor Alexandre Dumas.

Durante o Terror, Saint-Georges foi preso e passou onze meses no corredor da morte. Após sua libertação, ele ajudou Toussaint-Louverture no Haiti antes de retomar suas atividades musicais com sucesso. Infelizmente, sua vida foi interrompida por uma doença em junho de 1799.

Legado e Redescoberta

A restauração da escravidão por Napoleão Bonaparte em 1802 resultou na exclusão das obras de Saint-Georges do repertório oficial, obscurecendo temporariamente seu legado. No entanto, a redescoberta de suas composições no século XX trouxe à luz a magnitude de sua contribuição para a música e a história.

Conclusão

Joseph Bologne, Cavaleiro de Saint-Georges, é uma figura que desafia as barreiras do tempo e do preconceito. Sua vida é um testemunho de talento, coragem e resiliência, e sua condição de primeiro maçom de pele preta acrescenta uma dimensão significativa à sua história. Como músico, esgrimista, líder militar e defensor dos direitos humanos, Saint-Georges deixou um legado duradouro que continua a inspirar gerações. Seu envolvimento com a maçonaria não apenas reforçou seus ideais iluministas, mas também ajudou a moldar uma visão progressista de igualdade e justiça que ressoa até hoje.

 

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