A MAÇONARIA E O BRASIL DA CONSTITUIÇÃO CEGA

 Por Marco Antônio Piva  – MM – MI – Cav. R+

Fonte: Bibliot3ca Fernando Pessoa

Uma sugestão para as reuniões da COMAB, da CMS e da Suprema Congregação do GOB

Meus diletos irmãos, particularmente aqueles que dirigem as dezenas de Obediências maçônicas espalhadas pelo nosso território, e me refiro aqui, somente às chamadas reconhecidas.

Primeiro, é preciso lembrar qual o papel do maçom na sociedade e da própria Instituição, da razão pela qual ela, Maçonaria, se institucionalizou a partir de 1717, em Londres, não por um punhado de pedreiros ignorantes que colocavam pedras em pilhas para subir paredes. Esses bravos artesãos já tinham praticamente desaparecido do cenário londrino e cosmopolita dos países europeus.

Esses pedreiros livres (freemasons) modernos já eram os chamados especulativos, homens de sabedoria, intelectuais, progressistas, isso é, homens que buscavam o progresso da Humanidade, da sociedade em geral, da pátria, através do estabelecimento das virtudes, ocultas no simbolismo das alegorias e instrumentos herdados dos pedreiros artesãos do passado.

Seu objetivo, da maçonaria institucional e especulativa, que prefiro chamar de simbólica, sem nenhum preconceito com outro termo, era esse, o progresso humano e social, sem meios termos, sem subterfúgios. Assim nasceu a Maçonaria, não era para ser religião, nem clube do chá das cinco, que, aliás, são instituições tão imiscuídas na cultura britânica, talvez, mais até que a própria maçonaria.

Portanto, todos os maçons iniciados de lá para cá, viriam com a intenção de serem construtores sociais, cumpridores de suas obrigações éticas, dentro do padrão estabelecido pela moral, agindo sempre para a elevação desse padrão. Claro que sabemos que se perdeu pelo caminho os objetivos, tornando-se mais um clube de comadres que usam a instituição como salvaguarda espiritual, já que se sentem arrependidos ou com medo dos “castigos de Deus” por estarem em uma Instituição proscrita pela igreja. Trata-se de uma compensação, se não me sinto bem, ou rejeitado, indo a uma igreja (de qualquer religião), vou na Maçonaria e faço dela uma sub-religião, meio cambeta é verdade, mas compenso minha culpa por não ir na casa do Senhor.

Assim, nosso trabalho real, de fato, caiu por terra, nem progresso intelectual, com estudos mais profundos sobre filosofia e outras ciências e artes que nos trazem cultura necessária para o desempenho de uma vida social melhor, dando melhores exemplos, por conhecer mais e melhor as virtudes, tampouco o progresso social, posto que nem praticamos filantropia de acordo com a importância que damos a essa virtude (caridade cristã ou solidariedade fraterna). Substituiu-se a ação, pela devoção a um ente supremo, nomeado e com endereço (Bíblia), como se faz nas religiões, ou seja, viramos culto  religioso do pré-ágape.

Por que novamente essas críticas partindo de minha cabeça e meus dedos? Por que o mundo está girando a nossa volta e nós, todos nós, brincando de não enxergar, nos omitindo como sempre, contando histórias de participações heroicas de maçons no passado, até mesmo da Instituição, como na independência do Brasil.

Me sinto cada vez mais inútil como agente de progresso humano e social, a que me propus e me candidatei, há mais de 40 anos, ao ser iniciado.

Lutei muito para fazer da maçonaria uma catapulta de elevação moral, social e intelectual. Dar aos novos maçons cultura para entender seu papel na sociedade.

Porém, hoje, me sinto vencido, mas não fracassado, porque tentei. Defendi como pude meus ideais, nem sempre compartilhado pelos irmãos a minha volta, mas sempre respeitado. Nunca seguido de fato pelos queridos irmãos, que esbarram nessa mesma apatia moral. Letargia compulsiva e transmissível.



Quando olho de para fora da janela de meu isolamento, vejo absurdos acontecendo na política, local, estadual e do pais. Tudo por omissão do povo, e nossa, dos maçons regulares. O povo deve ser perdoado pela sua ignorância, pela sua má formação moral, conforme as regiões e níveis sociais, que torna compreensível seu desconhecimento de fatos contemporâneos, ocorridos pela sua omissão.

Mas, e nós maçons? Somos uma camada da sociedade tão igual à média nacional? Somos ignorantes e por isso, omissos? Não entramos na Maçonaria para sermos diferentes e construirmos uma sociedade melhor? Onde está a cegueira de Saramago em nosso caso? Não vemos ou não queremos ver? Somos ignorantes ou velhacos?

Desculpem os leitores, não há meio termo para a franqueza vinda dos sentidos. Sentimentos brotam dos sentidos e da razão, não das paixões vis. Minha frustração não é fruto de raiva ou fanatismo, ao contrário, é indignação nascida do amor ao Direito e à Humanidade, e desprezo para com a vulgaridade e com a omissão de todos nós.

Mestres que dirigem as instituições maçônicas regulares, pelo menos, essas, atentem para a sociedade. Vivemos em um país que se torna pior a cada dia, moral e socialmente, com a supressão da ética e da decência, partindo dos agentes públicos, desde pequenas Câmaras de Vereadores ao Congresso, e, tristemente passando pelas cortes judiciais, onde se institucionalizou a “ditadura de toga”, creio que até pior que a militar que vivemos nos anos 60 a 80 em termos de supressão de direitos e flagrante desrespeito à Constituição por parte de quem deveria defende-la.

Nós não votávamos para alguns cargos e tínhamos que andar “na linha”, quem não devia, vivia normalmente, feliz, trabalhando e progredindo. Hoje, não podemos emitir opiniões, não podemos ser homens livres, e isso é um crime contra a Humanidade. Pensem nisso. Amanhã não poderemos escolher nem mesmo nosso candidatos livremente. Estão alimentado o monstro e ele vai nos engolir.

Uma Constituição que é cega porque não enxerga esses abusos, porque quem poderia vigiar as Instituições é o cego (delituoso), não permite que outros poderes interfiram, e lá se exerce os 3 poderes republicanos e mais alguns que nos eram desconhecidos, ou alguém já ouviu a pérola “mandado de prisão em flagrante”, dita por algum magistrado ou ministro de Corte maior até antes desses tempos nublados pelos quais passamos? Esse é um pequeno exemplo. Há erros no Executivo e no Congresso também, mas são problemas políticos, típicos da democracia, e não erros técnicos e que deturpem a própria Constituição do país.

A nossa Carta, de 88, pré internet, tão elogiada por alguns, chamada de Cidadã, hoje é usada como armadilha para colocar cidadãos que se expressam na cadeia. Mas já foi usada para sonegar serviços públicos, aumentar impostos e gastá-los com altos salários de servidores nomeados, ou mesmo concursados que operam em benefício próprio.

Há um erro de propósitos na Republica brasileira e o mau-uso das instituições estão espalhados de ponta a ponta.

Ai vem a pergunta: quem poderá nos salvar? Não, não é o Chapolim Colorado, mas nós mesmos, cidadãos. Quem vai ler corretamente, com bons olhos, essa Constituição e perceber que ela está vencida, toda errada e fora de tempo e espaço, e não falo aqui dos famosos “direitos”, mas sim da falta dos “deveres”, da bagunça feita na distribuição dos poderes, dos privilégios em excesso, da escolha errada e oportunista por um sistema eleitoral que beneficia os currais e causa essa odiosa divisão de ideologias, onde, só existe ódio mesmo e nenhuma razão?

Essa é a hora da Maçonaria institucional aparecer, como uma Luz de esperança da sociedade, um farol a ser seguido, sem medo e sem reservas, usando da mesma franqueza e objetividade, encampando uma campanha seria e firme, nas mídias sociais, na imprensa, não só dentro de Lojas, mas na sociedade, para que fique bem claro a opinião e desejo dos maçons livres brasileiros, de se fazer, com pessoas abalizadas, competentes e não simples deputados mal eleitos, uma nova Constituição, moderna, flexível, enxuta, dando mais poderes aos municípios (transferência de responsabilidades ao poco mais diretamente), aos Estados e tirando o ônus da responsabilidade da União que está longe do cidadão.

Alteração no sistema representativo, o voto distrital, limitações à criação de partidos políticos, liberdade de expressão, inclusive nas redes sociais que hoje se autodeterminam censores públicos, até mesmo de autoridades. Um investimento estatal maciço em educação, em saúde publica preventiva e em segurança pública, com atualização posterior à nova Carta de um código penal decente, assim como o de processo penal.

Enfim, poderíamos listar mais 500 alterações necessárias e que seriam previamente aprovadas pelos maçons brasileiros, assim como de resto a sociedade em geral, em um processo de pesquisa ou mesmo de plebiscito interno. Com isso em mãos, os Grãos-Mestres, líderes do povo maçônico, mesmo sendo nesse montante, de dezenas, com bom senso e respeito democrático com a maioria, poderiam abraçar essa causa, sem medo de errar, porque esse é o desejo não só de muitos maçons, mas de milhões de brasileiros conscientes do que o país precisa para empreender um caminho melhor, e deixarmos assim um legado de respeito às futuras gerações.

Ou vamos continuar contando histórias de D. Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Rui Barbosa, etc… ? Chega, não? Precisamos escrever nossa história, nem que seja uma simples campanha por uma nova Carta Constitucional.

Jaraguá do Sul, SC – 18/02/2021

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4 Comentários

  1. Parabéns Jaragua do Sul
    Excelente texto e que não devemos sucumbir, mesmo que seja por WS.
    A União faz a fôrça, precisamos para termos mais força, temos que começar e urgente a pensar em nós.
    Chega de Potências.
    A Maçonaria é uma só.
    Aumentemos nossa fôrça e mostremos que somos uma Instituição coesa, com total pensamento no Brasil.
    Teremos só um Seren. G. M. Nacional.
    No texto de Jaragua do Sul,tem um pequeno engano, não foi Ditadura Militar, foi Regime Militar e que salvou e evitou que o País deixa - se de ser Democrácia.
    Somos grandes e seremos maior.
    Contamos com apoio popular e isso percebi nas passeatas de que participei.
    Enquanto esse sonho de desejo não acontece, precisamos de um lider
    Patrióta, Corajoso e Democrático.
    TFA
    MI - SP

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  2. achei excelente o texto e concordo plenamente. Sou VM de uma loja e fico triste de não vermos nenhuma ação da Sublime Ordem em prol da sociedade, onde nós, maçons, nos incluímos. Deveríamos começar por banir todo irmão maçom político ou cobrar deles atitudes dignas e responsáveis. Se os governantes não valem o que comem, o que dizer do pobre povo brasileiro?

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  3. Parabéns pela belíssima explanação! Devemos agir e fazer nossa parte.

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