O DIA DO FICO, A IMPRENSA E A MAÇONARIA

.*Por Waldir Ferraz de Camargo
O dia do Fico, que se comemora anualmente em 9 de janeiro, é uma data muito significativa de nossa história porque foi o prenúncio da Independência do Brasil que viria a acontecer em 7 de setembro do mesmo ano: 1822. A importância desta data reside na célebre frase de Dom Pedro I, então príncipe Regente do Brasil, que na época era um reino unido à Portugal e Algarves: “Se for para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto. Diga ao povo que fico!”. Foi o pronunciamento em resposta a um documento com 8 mil assinaturas, organizado e redigido pelos liberais integrantes do Partido Brasileiro, solicitando a permanência do regente no Brasil, contrariando as ordens da Corte Portuguesa que exigiam o seu retorno à Europa, reconduzindo o Brasil à condição de colônia.


Pesquisadores maçônicos de renome, como José Castellani, são unânimes em afirmar que, neste episódio, assim como em muitos outros, a Maçonaria exerceu um papel fundamental na consecução do evento, pois funcionava como um verdadeiro partido político, com força atuante nas Lojas que aos poucos se espalhavam pelo País, mas se irmanavam na defesa e propagação dos mesmos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Assim como a Maçonaria, a imprensa desempenhou sua função com maestria, sendo decisiva para o “Fico”, já que a partir de agosto de 1821, portanto seis meses antes, em meio às agitações sociais de descontentamento da população face a um possível recuo do processo de separação do Brasil e Portugal já em andamento, livre da censura, passou a divulgar publicamente as ideias até então discutidas secretamente nas reuniões da Lojas. Consta que um forte discurso do maçom Cipriano José Barata foi publicado na íntegra, denunciando a trama contra o povo brasileiro. Diversos panfletos começaram a aparecer no Rio de Janeiro, distribuídos nas ruas ou pregados nos postes e muros pedindo a permanência do regente no Brasil. Exortavam ainda a emancipação brasileira e criticavam as medidas recolonizadoras da Corte.

Cedendo às pressões populares e à força dos movimentos organizados de resistência, principalmente da Maçonaria, Dom Pedro I dá a resposta que todos os brasileiros esperavam legando à Nação os alicerces para a edificação do ideal maior de liberdade que o povo sentia prestes a se concretizar. Talvez a data passe despercebida pela maioria dos brasileiros, mas comemorar o Dia do Fico faz com que nos lembremos de uma das fases mais importantes de nossa história, marcada pela luta incansável dos “homens de bons costumes”, como são conhecidos os maçons, pois entendemos que aquela mesma coragem, a mesma dedicação e o mesmo empenho, nos faz perseguir nos dias atuais os sentimentos de justiça, de inclusão profissional, fim dos preconceitos e conquista dos direitos inalienáveis à cidadania.

As atitudes que a Maçonaria elegeu no passado devem reafirmar a todos os cidadãos de hoje o compromisso de trabalharmos unidos contra a corrupção, a ignorância, os erros e as desigualdades, buscando o convívio da paz, iluminando a escuridão dos males sociais, pondo em prática sempre que pudermos o que prega o mais sagrado ideal maçônico que é cavar masmorras aos vícios e levantar os templos da virtude.

*O autor é professor de história, funcionário público estadual e membro da Loja Maçônica “Deus, Pátria e Família” de Bauru.

Fonte:JCNET

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