Biografia conta a história da comunista mineira Lucilia Rosa

Fonte: Portal Vermelho
A trajetória de um dos principais nomes do comunismo em Minas Gerais agora é contada em livro. Foi lançada a biografia Lucília - Rosa Vermelha, que conta a história da militante Lucilia Rosa Soares (foto). Ela morreu em 2010 com 98 anos, em Uberaba, no Triângulo mineiro. Com lucidez até os últimos dias, fazia sempre questão de reafirmar: “sou uma comunista convicta
O lançamento da biografia de Lucilia aconteceu na Universidade de Uberaba, no dia 13 de janeiro, e contou com cerca de 250 pessoas, entre prefeitos da região, vereadores, amigos e militantes principalmente do PCdoB e do PT. Leia mais

Lucília Rosa, aos 35 anos, foi uma das 17 primeiras vereadoras eleitas em Minas. Ela era de Uberaba, mas morava na vizinha Campo Florido, onde conquistou em 1947 uma cadeira da Câmara Municipal. Foi escolhida pelo PSD, porém era militante do PCB (Partido Comunista do Brasil) desde os 18 anos, quando se filiou e foi batizada como “Lucrécia”, seu “nome de guerra”.

Ousou e enfrentou preconceitos ao ligar as trompas, em 1939, depois de ter dois filhos. Foi presa duas vezes. Em 1949, ao cuspir no rosto do delegado, em Campo Florido. Em 1951, em Uberlândia, ficou detida por 13 dias ao participar de manifestação contra o envio de jovens brasileiros para a Guerra na Coreia.

Morou em São Paulo durante 15 anos, de 1958 a 1972, quando trabalhou como doméstica, entre outras patroas, para a deputada federal Ivete Vargas (PTB), sobrinha do presidente Getúlio Vargas, que conseguiu-lhe emprego na Caixa Econômica e nos Correios. Rejeitou e manteve-se na profissão que possibilitou as formaturas, em Odontologia, dos dois filhos.

Livro

A biografia de Lucilia é assinada pelo jornalista Luiz Alberto Molinar e a historiadora Luciana Maluf e foi idealizada pela jornalista Evacira Coraspe. Foram três anos de muito trabalho, fazendo entrevistas, recolhendo e acolhendo documentos, informações e fotos.

O projeto de pesquisa que originou o livro surgiu durante a visita que o então presidente da Câmara de vereadores de Uberaba, Lourival dos Santos (PCdoB) fez a Lucilia. Foi em 2006 e Lucilia estava com a saúde debilitada, após 25 dias em coma.

Ao ser indagada sobre seu maior sonho, ela disse que gostaria de ter sua trajetória publicada em livro. A partir daí, a então diretora de Comunicação do Legislativo, Evacira de Coraspe, idealizou o trabalho que agora foi publicado.

Memória

Ela chegou aos 98 anos, com uma memória extraordinária. Deixou um acervo rico de documentos, entre eles, correspondências que manteve com Luiz Carlos Prestes e com Anita Leocádia, filha dele com Olga Benário, morta em campo de concentração nazista, na Alemanha.

Lucília mantinha contato permanente com Anita há mais de 30 anos. Moraram juntas durante dois anos e meio, entre 70 e 72, clandestinamente, durante os anos mais sangrentos da ditadura militar, em São Paulo. Passava-se por tia de “Alice Nascimento”, codinome de Anita. Residiu também, durante três meses, em 1962, com a família de Prestes, a quem ajudava a cuidar de seis dos sete filhos.

Até seus últimos dias adorava falar de Karl Marx. A bíblia que carregou debaixo do braço durante décadas foi o famoso O Capital. Dedicou toda sua vida à causa revolucionária. Lutou por uma sociedade justa para todos.

“O capitalismo tá morrendo. O enterro vai ser muito difícil. E o nascimento do socialismo é um parto, um parto demorado, sacrificado, judiado, mas ele vai nascer”, disse certa vez. Em termos de parto, nós mulheres que parimos é que sabemos: uns partos são mais rápidos, outros menos. Mas, para parir uma coisa nova, bonita, bem feita e bem acabada, não é fácil, não”, dizia Lucilia em uma das suas reflexões.

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